Você já tinha percebido? Há mais mutantes azuis do que negros nos X-Men

X-Men é uma das franquia mais queridas pelos fãs, seja nos quadrinhos ou nos cinemas. As suas histórias falam abertamente sobre ódio e preconceito, servindo como ótimas analogias a luta pelos direitos da comunidade negra nos EUA lá na década de 60, ou mais recentemente pela busca de reconhecimento e respeito pela comunidade LGBT.

Foi na franquia mutante que surgiu o primeiro personagem gay da Marvel, o Estrela Polar, em 1992. Foi onde pela primeira vez uma personagem negra liderou uma equipe, no caso a Tempestade comandando os X-Men, em 1985.

Mas apesar dessas (e várias outras) abordagens e temáticas extremamente importantes presentes nos X-Men, ainda há uma hipocrisia que permeia a franquia: há mais personagens azuis de destaque nos X-Men do que negros.

E pra provar isso, basta você pensar rápido: quantos mutantes negros tem nos X-Men? Ok, você começou bem, primeiro a Tempestade, possivelmente a personagem negra mais popular dos quadrinhos.

Mas o segundo nome está mais difícil de sair, né? OK, aí vai uma ajudinha: Bishop. O mutante que veio do futuro para impedir a catástrofe no presente e acabou ficando por aqui. Mas enquanto a Tempestade surgiu em 1975, Bishop só foi criado só em 1991.

E importante frisar que a ideia aqui não é listar mutantes negros coadjuvantes, que aparecem de vez em nunca em algum título. Queremos aqueles que já participaram de uma equipe de X-Men. Que tiveram real destaque, mesmo que por um curto período de tempo.

Ta difícil de lembrar do terceiro, né? Mas vamos lá: Larval. Um mutante sul-africano, um dos mais obscuros e esquecidos da franquia. Está há anos no limbo editorial. Seus poderes consistiam em criar duas larvas enormes que funcionavam como seu sistema digestivo.

E basicamente junto dele também chegou aos X-Men a médica porto-riquenha Cecilia Reyes. Ambos debutando na equipe em 1997. Foram o terceiro e quarto integrantes negros do grupo.

A quinta integrante foi a Monet. Ela surgiu em Geração X, lá em 1994 e possui ascendência argelina. Seus poderes são variados, pois consegue voar, tem super-força, telepatia e consegue até mesmo assumir uma forma mais agressiva que lhe dá garras afiadas.

Mas ela só entrou para os X-Men em 2013/2014, em uma equipe específica composta apenas por mulheres. O título não era o principal dos X-Men lançado na época, mas carregava o título da equipe e então não dá para ignorar. A personagem brilhou de verdade mais em revistas como Geração X e X-Factor.

O sexto integrante negro dos X-Men é o Nezhno Abidemi, um jovem mutante de Wakanda que foi criado em 2006, mas só entrou para a equipe em X-Men: Equipe Vermelha, de 2018.

E agora, em 2021, tivemos o sétimo e último integrante negro da história dos X-Men: Sincro. Ele também surgiu em 1994 na HQ da Geração X e possui a habilidade de copiar os poderes daqueles que estão ao seu redor.

Mas para não me acusarem de estar vendo o copo meio vazio, é importante destacar que em equipes periféricas dos mutantes, como X-Factor e Novos Mutantes, por exemplo, há outros personagens negros em destaque. Mas nenhum foi um X-Men.

É o caso do Mancha Solar, um dos fundadores dos Novos Mutantes (e que no seu filme foi interpretado por um ator branco). Esse personagem é brasileiro e seus poderes surgiram em uma partida de futebol, quando ele sofreu um ataque racista do time adversário.

Tem também o Prodígio, mutante capaz de absorver conhecimento das pessoas que estão próximas a ele. Ele consegue aprender novos idiomas, ter conhecimento técnicos apurados ou mesmo se tornar um mestre em artes marciais, apenas estando próximo de pessoas com tais conhecimentos. Recentemente ele participou do X-Factor.

Idie Okonkwo, uma jovem de uma tribo da Nigéria, que foi recrutada pelos X-Men assim que manifestou seus poderes. Ela nunca integrou a equipe principal, esteve sempre com os jovens estudantes. Ela consegue gerar fogo com uma das mãos e gelo com a outra.

Há ainda dois mutantes negros que acho que valem a pena a menção: Frenesi, criado em 1986 e que possui super-força e tem aparecido atualmente em ESPADA como uma diplomata de Krakoa, a nação mutante. E Teleporter, criado em 1988, um senhor aborígene da Austrália que ajudou os X-Men em algumas situações e que consegue se teleportar.

Se formos observar os filmes, as coisas ficam ainda mais complicadas. Pois há exatos 6 personagens negros. Mas apenas uma, a Tempestade, possui razoável destaque.

Bishop, que aparece apenas em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido e morre no filme. Darwin, que aparece em X-Men: Primeira Classe e também morre no filme.

Há o caso do vilão Bolivar Trask, que aparece muito brevemente em X-Men: O Confronto Final, mas que foi substituído em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, por um ator branco.

Em Wolverine: Origens temos John Wraith, que também surge e morre no próprio filme.

E claro, os casos já mencionados do Mancha Solar e Cecilia Reys, personagens negros nos quadrinhos e interpretados por atores brancos no filme dos Novos Mutantes.

E os mutantes azuis?

Ok, falamos muito dos personagens negros dos X-Men, mas e os azuis? O problema é muito mais evidente no cinema. Como acabamos de destacar, há apenas UMA personagem negra que se destaca nos filmes. O mesmo não pode ser dito dos azuis.

Mística, a vilã azul, aparece em TODOS os filmes dos X-Men: X-Men, X-Men 2, X-Men: O Confronto Final, X-Men: Primeira Classe, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, X-Men: Apocalipse e X-Men: Fênix Negra.

O Fera, outro mutante azul, aparece em X-Men: O Confronto Final, X-Men: Primeira Classe, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, X-Men: Apocalipse e X-Men: Fênix Negra.

O Noturno, outro mutante azul, aparece em X-Men: O Confronto Final, X-Men: Apocalipse e X-Men: Fênix Negra. Vale mencionar ainda o vilão Apocalipse.

Se analisarmos friamente, a quantidade de personagens negros é maior. Mas o tempo de tela e principalmente a relevância na trama não é muito menor? Há personagens que estão lá claramente para preencher cota. Não há nenhuma história para esses mutantes.

Mas trazendo para os quadrinhos, personagens como Fera, Noturno, Arcanjo, Mística e Apocalipse (por vezes colorido em tons de cinza e em outros azul) sempre tiveram mais destaque do que qualquer mutante negro citado anteriormente (exceto a Tempestade, obviamente).

Aquele que mais perto chegou de ter uma real valorização foi Bishop, mas não vamos esquecer que na saga Complexo de Messias, de 2007, ele acabou sendo transformado em um vilão e ficou um bom tempo ausente da equipe.

As equipes dos X-Men

Ao longo da história, analisando as fases mais clássicas do grupo, diversas composições de equipes mutantes tinham mais integrantes azuis do que negros.

É o caso do Excalibur, de Chris Claremont, onde todos os integrantes eram brancos, exceto o Noturno que era azul. Ou os Novos X-Men de Grant Morrison, com um longo elenco branco, e o Fera que era azul.

Os Surpreendentes X-Men, de Joss Whedon, todos membros brancos, e o Fera azul. Mesmo o aclamado run de Chris Claremont e John Byrne, lá na década de 70/80, tínhamos o Noturno e a Tempestade, mas também nos bastidores, fora da equipe principal, aparecia o Fera.

Fora claro a formação original dos X-Men e diversas composições ao longo da história, que contavam apenas com integrantes brancos.

Salvo engano, nos X-Men principais, há apenas quatro situações em que estiveram presentes na equipe mais personagens negros do que azuis. Veja bem, em 6 anos de X-Men apenas 4 formações. A primeira foi a formação mutante de 1997.

Na ocasião, participavam dos X-Men de Joe Kelly a Tempestade e os novatos Larval e Cecilia Reyes. Enquanto o único integrante azul do time era o Fera. Mas, vale destacar, que o Larval sempre que era alimentado pelas suas larvas mutantes … ficava azul.

A segunda ocasião foi apenas em X-Men: Equipe Vermelha, título de 2018 e com uma alta carga política. A formação da equipe contava com dois heróis negros: Tempestade e Nezhno e apenas um azul, o Noturno.

A terceira foi a já mencionada equipe só de mulheres, que contava com Tempestade, Jubileu, Psylocke, Rachel Grey, Vampira, Kitty Pryde e Monet. Duas negras e nenhum azul.

E a quarta e última formação é a atual, criada em 2021. Participam da equipe: Ciclope, Jean Grey, Vampira, Wolverine, Solaris, Polaris e o Sincro. Novamente nenhum azul e um negro.

É cedo para comemorar, mas as coisas parecem que gradativamente estão melhorando.

No meio dos anos 90 o grupo bateu na trave, com Bishop e Tempestade empatados com Fera e Arcanjo na equipe. E foi isso.

Porém, claro, é preciso mencionar os títulos periféricos, que não são os X-Men e que tiveram o cuidado de compor um elenco mais diverso. E alguns dos principais exemplos são os Novos Mutantes originais, sem ninguém azul e com o Mancha Solar.

As turmas de jovens estudantes também costumam ser mais inclusivas, com personagens como Prodígio, Nezhno e Idie, Monet e Sincro surgindo daí. Apesar disso, vale destacar, tem jovem mutante dourado, verde, roxo, cinza … poderiam ter mais negros.

Mas também precisamos ser sinceros, esses personagens negros das equipes periféricas não costumam receber de fato um grande destaque. No máximo um razoável protagonismo, numa revista de equipe e durante a fase de algum escritor específico.

O queremos dizer com isso tudo é que apesar de X-Men dialogar muito com uma série de questões sociais, a franquia ainda precisa melhorar muito. Há muitos personagens brancos, que em nada acrescentam, ganhando mais e mais destaque nas revistas.

Personagens que as vezes estão nos títulos apenas para fazer número ou por serem queridinhos dos escritores. Já passou do momento de se dar mais espaço aos personagens negros da franquia.

Os roteiristas dos X-Men por anos tentam simular questões de diversidade, inclusão, preconceito e exclusão social, mas ao invés de usarem isso com personagens que sofreriam com isso na vida real, se escoram na minoria fictícia mutante, explorando problemas reais em personagens que não se espelham de fato em pessoas reais.

Um exemplo foi quando o escritor Matthew Rosenberg, na revista dos Fabulosos X-Men de 2018, tentou fazer uma crítica a transfobia usando a mutante Lupina.

Ela estava em um momento de crise, foi assediada por alguns homens e se transformou parcialmente em loba. A cena foi uma analogia a quando homens héteros vão paquerar uma mulher e acabam descobrindo que ela é trans. A Lupina acabou sendo espancada até a morte por três homens.

A crítica aqui é pelo fato do autor simular uma situação de transfobia usando uma personagem que não é trans. E isso é algo que recorrentemente acontece justamente com os mutantes azuis.

Como a maioria dos mutantes são pessoas brancas, saradas e esbeltas, as representações de preconceito racial acabam ocorrendo com os personagens com uma mutação mais visual, no caso, os azuis: Fera e Noturno, principalmente.

A Marvel acaba usando personagens que não são negros para explorar a temática racial. E é justamente esse o cerne da nossa crítica.

Boa parte de todos esses problemas também seriam resolvidos contratando profissionais mais diversos. Boa parte dos escritores responsáveis pela franquia mutante, historicamente, são homens brancos. Há poucas mulheres e, sinceramente, escrevendo X-Men de fato, não me recordo de já ter visto alguém que não seja branco.

Posso citar de cabeça Vita Ayala, uma pessoa negra e não binária que tem trabalhado como roteirista de revistas como Filhos do Átomo e Novos Mutantes nos últimos meses. Mas mesmo elu não está no título principal, mas em títulos periféricos.

Um exemplo de acerto da Marvel nesse sentido foi a contratação de Sina Grace, um escritor homossexual, para escrever a revista que explorou a sexualidade do Homem de Gelo, quando ele se assumiu gay. Nós aqui do site entrevistamos o autor e ele falou sobre a vivência que trouxe para a HQ.

E se me permitem, para finalizar trago uma “coincidência irônica“. Talvez essa seja um pouco exagerada, mas acredito que ainda é válida.

Em 2017 a Marvel lançou a tendência de equipes mutantes com nomes de cores. Surgiram assim X-Men Gold (Dourada), Blue (Azul), Red (Vermelha) e Black (Preta).

X-Men Blue virou X-Men: Equipe Azul, um time com heróis adolescentes. Já X-Men Black se tornou X-Men: Trevas, um título com pequenas histórias em formato de antologia focada nos vilões. Mesmo que de maneira não intencional, se relacionou o Azul aos heróis e o Preto aos vilões.

E curiosamente, nenhum mutante negro ganhou destaque em X-Men Black, mas Mística e o Apocalipse, dois personagens azuis, ganharam suas aventuras.

Mas e então, caro leitor, o que achou disso tudo? Concorda que a Marvel poderia valorizar mais os seus personagens negros? Já havia notado que os personagens azuis ganham mais destaque? Deixe a sua opinião nos comentários.

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