Colorista da Marvel faz emocionante desabafo sobre representatividade nas HQs

Estamos no Mês do Orgulho então até o final de junho você verá pipocar aqui pelo site uma série de matérias especiais sobre esse tema. Nós já abordamos pautas como essa o ano inteiro, mas claro, vamos nos esforçar ainda mais nesses próximos 27 dias.

Pois bem, em 2020 a Marvel publicou uma nova saga nos EUA (que tá saindo agora no Brasil) chamada Impéryo. Na história nós acompanhamos Hulkling, um herói que é um híbrido das raças alienígenas rivais Kree e Skrull, unindo os Impérios Intergalácticos que estão em guerra há séculos. Atualmente o Planeta Natal das duas espécies encontra-se destruído, ambos estão fragilizados e então decidem se unir perante a liderança do Messias, aquele que os une.

Acontece que Hulkling é também um dos principais personagens LGBTs da Marvel, ele forma um casal gay com Wiccano, filho da Feiticeira Escarlate. Inclusive, você deve lembrar que na Bienal do Livro o ex-Prefeito do Rio tentou censurar uma HQ que contava com um beijo gay, né? Os pombinhos que estavam se beijando na revista eram Wiccano e Hulkling (clique aqui para conhecer melhor o casal).

Ou seja, a Marvel publicou uma mega-saga, que são histórias relevantes, que impactam toda a editora, recebem muita publicidade, vendem bastante e todo mundo fala sobre e colocou um personagem gay como protagonista. Mas mais do que isso, na última edição da HQ, Hulkling e Wiccano se casaram. E na festa de casamento tivemos a presença dos Vingadores, Quarteto Fantástico, Guardiões da Galáxia e outros grandes heróis da Marvel.

A HQ foi escrita por Dan Slott (Homem-Aranha) e Al Ewing (Imortal Hulk), com arte de Valerio Schiti (Guardiões da Galáxia) e cores de Marte Gracia (Dinastia X). E foi esse último, Marte, quem escreveu um emocionante texto/desabafo nas suas redes sociais sobre a importância da representatividade nos quadrinhos e o peso que Impéryo teve pra ele. Confira abaixo o texto na íntegra:

Falar sobre esta página é falar sobre minha infância no México nos anos 90. Eu tinha 12 anos em 1992 e não conseguia comprar coisas da Marvel o suficiente! Felizmente, eu morava no lado norte do país, perto da fronteira com os Estados Unidos, então encontrar quadrinhos na loja de conveniência era comum, os amigos do sul tinham que ir em comic shops. Os anos 90 foram fantásticos (elétricos!), tudo era tão cheio de energia, jogado na sua cara, dava para sentir a emoção do milênio que se aproximava com a democratização da tecnologia e computadores com Internet surgiram nas casas de todos. Ao mesmo tempo, na minha zona particular do Universo, as coisas eram extremamente sombrias.

Eu cresci em uma família muito católica – bastante conservadora, eu diria – eu tive que ir para uma escola católica que ficava a apenas 2 quarteirões da minha casa, então toda a minha vida foi gasta em menos de um quilômetro quadrado. Quando criança, todos sabiam que eu era gay, tinha modos efeminados e não fazia as coisas normais que as pessoas esperavam, fui repreendido várias vezes pela maneira como me expressava ou me comportava, sem falar do bulliyng na escola, então, na minha mente de 12 anos, ser eu mesmo era errado e nojento.

Os quadrinhos foram minha porta de entrada para a felicidade, meus heróis favoritos foram meu mundo e eles se tornaram minha obsessão. Eu realmente queria fazer histórias em quadrinhos, então comecei a desenhar, o que se tornou meu foco principal. Agora que penso em retrospectiva, estava realmente evitando meu contexto social com quadrinhos e arte. Mas havia algo que realmente me incomodava, não havia personagens gays, mexicanos, latinos ou pessoas que se pareciam comigo, isso me entristecia muito.

Com o tempo tive que aprender a atuar direito, a ser homem, até tentei gostar de esportes, o que não deu certo, rsrs. Eu construí uma enorme parede ao meu redor para que ninguém pudesse pensar que eu era gay (porque isso era errado). O tempo passou, as coisas melhoraram, saí de casa, comecei a trabalhar nos quadrinhos, ganhei coragem de sair e assumi o controle da minha vida, foi super difícil largar aquela armadura falsa, relaxar e ficar confortável na minha própria pele . Agora eu só quero ser FABULOSO, sombrio e fabuloso.

Mas por que eu estou contando tudo isso? Porque representatividade nos quadrinhos é importante. Os quadrinhos são um reflexo de seu próprio contexto histórico e é hora de mostrar em suas páginas um reflexo das pessoas que os leem, das pessoas que os fazem. Quando abri esta página, tive que sentar e ficar olhando para ela por um longo tempo, para ver meu casal gay favorito como os personagens centrais do evento principal deste ano e cercados e apoiados por outros personagens importantes, isso foi poderoso.

Não estou mentindo quando digo que simplesmente comecei a chorar, lágrimas boas, lágrimas de felicidade, lágrimas de gratidão, lágrimas de orgulho. Percorremos um longo caminho desde a década de 90 e ainda temos muito a fazer, mas fico muito feliz em fazer a minha parte, em compartilhar a felicidade através dos quadrinhos, em transmitir a mensagem de que as crianças que estão lendo esses livros que não estão sozinhas, tem mais pessoas como você, que ser você está bem e que com o tempo as coisas ficam melhores.

Muito amor de todos os envolvidos em Impéryio!!! E obrigado por fazer parte disso.

Marte Gracia

Confira os outros textos especiais do Mês do Orgulho que já postamos até agora:

– 10 grandes quadrinistas da Marvel que fazem parte da comunidade LGBT.

Mas e então, caro leitor, o que você achou de Impéryo? Gostou de ver a Marvel dando destaque para o Hulkling? Também ficou emocionado com o desabafo de Gracia? Deixe a sua opinião nos comentários.

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