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Visão: a HQ inflacionada da Panini que vale cada centavo

É de conhecimento quase geral que Visão é uma das melhores revistas publicadas em 2016, bem como uma das melhores publicadas pela Marvel nos últimos anos. Não é difícil encontrarmos em comentários soltos pelo Facebook como a obra é única em sua abordagem. Mas o que realmente torna essa HQ tão especial?

Uma das inovações de Tom King nessa HQ foi abordar o Visão, um androide, tendo de lidar com uma família e preocupações humanas. Foto: Marvel Comics.

Escrita por Tom King (Batman) e com arte incrível de Gabriel Walta (Dr. Estranho), Visão trata dos eventos pós-Guerras Secretas, colocando o sintezóide em busca de “normalidade”, apesar de seguir atuando como super-herói.

Para isto, o personagem cria uma família para si, formada por sua esposa Virginia, sua filha Viv e seu filho Vin, e partindo dessa criação o personagem se muda para o subúrbio de Washington. Apesar dessa busca por uma vida cotidiana típica de um americano de classe média, a trama pessoal de cada membro da família Visão acaba por se desenrolar em tragédias.

Com base nisso a história é desenvolvida pela narrativa de Agatha Harkness. Esse recurso é muito bem utilizado pelo autor, já que dita um clima constante de tensão ao longo da narrativa, sem necessariamente interferir na interpretação do leitor. A história flui de forma orgânica e surpreendente, sempre se contrapondo à postura impassível de Visão que parece simplesmente ignorar os detalhes que expressam os problemas de sua família.

King busca abordar justamente essa busca de Visão em se colocar no mundo como uma pessoa normal. Uma casa no subúrbio de Washington, filhos estudando na escola local, uma esposa devota, um emprego importante. Tudo basicamente construído sob a forja de um americano exemplar. Contudo é justamente nessa tentativa de se enquadrar em um mundo estranho que habita a inépcia de se encaixar.

A humanidade de Visão não está em construir uma família e viver como um bom cidadão americano nos subúrbios de Washington. Sua humanidade está nos espaços onde ele demonstra fraqueza, medo e incerteza, pois apesar de toda sua perspicácia lógica e racional, Visão ainda é um super herói e ainda é passível de falhas e é justamente nesse ponto que expressa sua humanidade.

Visão é retratado como um personagem falho, um herói que não é perfeito. E aí está a tão falada sutileza do roteiro de Tom King. Foto: Marvel Comics.

O preconceito é abordado tanto de forma direta quanto indireta, seja nos ataques sofridos por Vin, quanto na postura dos vizinhos curiosos da família Visão diante da mudança. Conforme somos apresentados aos demais personagens da realidade dessa revista, também somos apresentados a forma como esses mesmos coadjuvantes enxergam seus vizinhos e colegas de aula.

Visão e sua família não são vistos como seres vivos, mas sim como coisas, autômatos animados tentando reproduzir artificialmente a vida humana. É interessante que, mesmos sendo um androide e tenha sido criado para ser racional, é retratado o desconforto com o tratamento que Visão recebe das pessoas e como o personagem busca se apegar ao fato de ter salvo o mundo diversas vezes, o que claramente não importa para os demais.

 

Quem diria que o Visão renderia uma história sobre drama familiar, hein? Foto: Marvel Comics.

Um dos pontos altos dessa história é a esposa de Visão, Virginia. Se o personagem-título busca se enquadrar em mundo onde ele não é bem visto enquanto indivíduo, Virginia simplesmente não entende sua posição nesse quadro. A personagem simplesmente busca responder a sua programação, contudo se estabelece um conflito com sua existência, o que acaba se exasperando de forma quase silenciosa ou em surtos esporádicos.

Visão não é apenas mais uma história maniqueísta sobre super-heróis. É uma história sobre existência, preconceito e a natureza do ser humano. Sua leitura não proporciona apenas o divertimento, ela também provoca e instiga a questionarmos o que é ser normal.

A jornada de Visão nessa revista não tem um grande vilão, na verdade pode se dizer que o vilão é ele mesmo e sua busca por essa vida superficial para simplesmente se encaixar em um conceito, o de um Homem Normal. Em suma, é a trajetória de um ser contra ele mesmo.

Se eu recomendo? Na verdade, fica o questionamento, por que não leu ainda? O primeiro volume, que inclui as edições #1 a #6 de The Vision, foi publicado nesse início de ano pela Panini. Um segundo encadernado, finalizando essa história, será lançado em breve, mas ainda não tem data prevista.

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Redação Jamesons

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