Não, o boicote aos X-Men não acabou apenas em 2018

O ano era 2015 e iniciava-se a nova fase da Marvel, a All-New All-Different. Em comparação à fase anterior, os X-Men tinham uma linha de quadrinhos bem reduzida. Os Inumanos ganhavam cada vez mais destaque, enquanto os mutantes ficaram com apenas cinco revistas mensais.

Agora, em 2018, os avanços nas negociações da Disney para comprar a FOX se tornaram informação pública e qualquer notícia relacionada aos quadrinhos dos X-Men é tratada como o fim do boicote. O problema é que o dito boicote acabou há mais de um ano. Mas, afinal, como isso aconteceu? Como isso passou despercebido? Neste texto, será montada uma “linha do tempo” do boicote para que você entenda como ele começou e acabou.

2012 – A Nova Marvel

Nessa época, não dá pra dizer que houve um boicote. Tínhamos várias HQs focadas em mutantes, incluindo até mesmo uma minissérie de comédia do Doop. Brian Michael Bendis, um dos principais roteiristas da Marvel, liderava a linha mutante com Novíssimos X-Men e Fabulosos X-Men. Para se ter uma ideia da relevância de se ter o Bendis escrevendo os mutantes, basta ver o impacto que causou a sua recente partida para a DC Comics.

Nesse período também foram lançadas revistas com grandes impactos cronológicos e alguns crossovers, como A Batalha do Átomo, O Julgamento de Jean Grey e Vórtice Negro, sendo que os dois últimos foram feitos com quadrinhos de fora da alçada dos X-Men, como Guardiões da Galáxia.

Quando o Wolverine morreu, alguns meses antes das Guerras Secretas, foram feitos vários spin-offs da história, como Wolverines, Programa Arma X e Legado de Logan. Essa era a calmaria antes da tempestade.

2015 – Feiticeira Escarlate e Mercúrio

Esse talvez seja o exemplo mais famoso do boicote. Em 2015, na quarta edição da segunda série dos Fabulosos Vingadores (durante a fase Avengers Now), foi revelado que Feiticeira Escarlate e Mercúrio, anteriormente mutantes e filhos de Magneto (graças a um retcon praticamente desconhecido), são experimentos do Alto Evolucionário e não eram mais filhos do mestre do magnetismo.

Isso foi visto por muitos fãs como uma maneira de eliminar qualquer laço dos personagens com a franquia mutante e pode ser considerado o principal estopim para que o discurso do boicote se popularizasse. Um dos principais motivos para o boicote seria que a Disney possui os direitos cinematográficos dos Inumanos, mas não dos X-Men, então tentaria representar nos quadrinhos.

A propósito, a história foi apresentada sob o título de “Não mais mutantes“, o que não ajudou muito. No mesmo período, a Garota Esquilo também revelou não ser uma mutante e a Tremor, cuja origem era misteriosa, foi definida como Inumana (emparelhando a heroína com a sua contra-parte da série de TV dos Agentes da SHIELD).

2015 – A fase All-New All-Different

Antes de começar a falar dessa fase, é importante lembrar que, durante o evento Infinito, na Nova Marvel, as Névoas Terrígenas foram liberadas na Terra, revelando novos Inumanos ao redor do globo. Bem, agora vamos falar sobre a All-New All-Different.

Nessa fase, pode se dizer que houve o ápice do boicote. Lembra da Nova Marvel? Imagine o oposto dela. Agora, havia apenas cinco HQs da franquia mutante – Extraordinários X-Men, Fabulosos X-Men, Novíssimos X-Men, O Velho Logan e Novíssima Wolverine -, um número bem reduzido em comparação à fase anterior.

Ao contrário do Quarteto Fantástico, que teve um fim natural, os mutantes estavam indo pra escanteio. Também foi introduzida a Varíola-M, uma doença mortal gerada pelo contato entre mutantes e as Névoas Terrígenas. Sim, aquilo que dava poderes aos Inumanos estava matando mutantes.

Na contramão, os Inumanos só melhoravam de vida e aumentavam suas fileiras. Além disso, surgiu a HQ Os Fabulosos Inumanos, atiçando a ira dos fãs d’Os Fabulosos X-Men. Algum tempo depois do fim de Extraordinários X-Men, Jeff Lemire revelou que o editorial praticamente ditava as histórias que deveriam ser contadas no título, sujando ainda mais a imagem da fase.

Vale destacar que o boicote é quantitativo, não qualitativo. Sempre que a palavra “boicote” for mencionada neste texto, ela irá se referir à quantidade de HQs referentes a mutantes e Inumanos. Tínhamos histórias boas dos dois lados, como O Velho Logan de Jeff Lemire e a Novíssima Wolverine de Tom Taylor para os mutantes e as HQs da Miss Marvel de G. Wilson e o Karnak de Warren Ellis para os Inumanos.

2016 – A Morte dos Mutantes e Inumanos vs. X-Men

Se os Fabulosos Inumanos e companhia já geraram muita ira, então imagine os efeitos do anúncio de uma história que mostra os Inumanos lutando diretamente contra os X-Men. Bem, uma imagem muito negativa foi construída em torno de Inumanos vs. X-Men.

Em primeiro lugar, surgiu Death of X (traduzida no Brasil como “Morte dos Mutantes”, publicada em Universo Marvel 16), uma minissérie cujo nome já não agradou aos X-Fãs. Depois, quando Inumanos vs. X-Men (publicada no Brasil em Universo Marvel 17 a 19) surgiu, todos acreditaram que a conclusão mostraria os X-Men derrotados enquanto os Inumanos sairiam vitoriosos.

O que aconteceu foi justamente o contrário: as Névoas Terrígenas foram eliminadas, dando um novo começo para os mutantes. Inumanos vs. X-Men foi um evento de qualidade bastante duvidosa, mas trouxe coisas boas, inclusive…

Começo de 2017 – A ResurrXion e o Fim do Boicote

No final de 2016, foi anunciada a ResurrXion, uma fase focada em mutantes e Inumanos, mas principalmente nos Filhos do Átomo. Tínhamos 10 HQs da linha X-Men e a one-shot que iniciou a fase, X-Men Prime #1, foi lançada em Março de 2017, pouco tempo depois do fim de Inumanos vs. X-Men.

Também eram anunciadas cada vez mais revistas protagonizadas por mutantes, como as minisséries Vampira & Gambit, Legião, Homem-Múltiplo, Homem de Gelo, ShatterstarA Ressurreição da Fênix e Novos Mutantes: Almas Mortas. Também surgiram novas revistas regulares, como X-Men Red e X-23. Na semana passada, inclusive, foram anunciadas as one-shots X-Men Black e o retorno regular de Uncanny X-Men, mas isso fica para outra parte do texto.

Os Inumanos não ficaram de fora, mas podemos dizer que eles foram prejudicados em relação ao que passavam na All-New All-Different. Eles tiveram três revistas regulares (Royals, Raio Negro e Guerreiros Secretos, todas já finalizadas/canceladas) e as minisséries Inhumans: Once and Future Kings e Dentinho. Depois que tudo isso acabou, o que sobrou para eles? A Morte dos Inumanos. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

No entanto, a ResurrXion passou despercebida. É provável que muita gente nem saiba que ela existiu. Isso poderia ser explicado pelo incrível fenômeno dos leitores que não leem as revistas, mas a abordagem deste texto será diferente.

O marketing da fase foi feito com um único “tiro”: divulgaram a iniciativa, soltaram um trailer para os X-Men e lançaram as one-shots X-Men Prime e Inhumans Prime. Só isso. Não foi criado um nome forte o bastante como Novos 52, Nova Marvel, All-New All-Different, Renascimento ou Fresh Start.

A ResurrXion só é reconhecida pelos X no canto das capas dos mutantes, nada mais. O boicote acabou, mas do que isso adianta se a maioria das pessoas não souber? Os X-Fãs finalmente ganharam o que queriam, mas provavelmente nem sabiam. É como se uma árvore caísse, mas sem ninguém para ouvi-la.

A fase ainda não estreou oficialmente no Brasil, mas deve ocorrer logo, logo. Quem acompanha mix O Velho Logan pode ter notado que a “página de créditos” da Novíssima Wolverine mudou mais uma vez e agora conta com um design diferente. Esse design – página preta com um X no canto, fonte padronizada, retângulo com uma imagem dos protagonistas – deve ser visto em breve em outras revistas, pois é característico da ResurrXion.

Em um editorial recente do mix X-Men, foi confirmado que existirá uma nova mensal chamada X-Men Gold, porém seus conteúdos ainda não foram anunciados (mas certamente incluirá a revista homônima escrita por Marc Guggenheim).

A identidade visual característica das revistas inseridas na fase ResurrXion. Foto: Marvel Comics.

Fim de 2017 – A série dos Inumanos e a compra da FOX

Desde seu primeiro trailer, a série dos Inumanos foi intensamente zoada nas redes sociais. Quando estreou, a zoeira foi maior ainda. Com um roteiro risível e momentos que dão vergonha alheia, a série só piorou a imagem pública dos Inumanos. Como já foi dito, muitos não sabiam que o boicote aos X-Men já tinha acabado, então o seriado foi visto como parte dele.

Na última semana de 2017, foi divulgado ao público que a Disney estava prestes a comprar a FOX (a confirmação, ou não, do negócio ocorrerá amanhã). A informação se propagou rapidamente como se a compra já estivesse sido feita. De fato, ela já é quase uma certeza graças ao andamento das negociações. Não iremos falar sobre quadrinhos nesse parágrafo, pois ele está aqui apenas para contextualizar o restante do texto.

2018 – E agora?

Apesar de tudo o que esse texto mostrou, ainda há a impressão por parte dos leitores de que existe um boicote aos X-Men nos quadrinhos, mesmo que ele já tenha acabado há mais de um ano. Vivemos em um cenário onde tudo o que a Marvel anunciar sobre a equipe será instantaneamente relacionado à compra da FOX. O objetivo deste texto é ir contra essa ideia de que o boicote acabou só agora, em 2018, e informar o processo que levou a isso.

Realmente ocorreu um algo que é possível compreender como um boicote aos mutantes, mesmo que o termo seja um pouco exagerado. No entanto, ele não acabou agora, depois dos avanços compra da FOX. Isso ocorreu muito antes. O trailer da fase ResurrXion literalmente começa com a frase “Vocês pediram e conseguiram: Os X-Men voltaram aos holofotes!“, indicando que o editorial apenas estava atendendo aos pedidos dos fãs.

Se você estava antenado(a) nas discussões sobre quadrinhos dos X-Men na época do boicote, deve ter percebido que havia um grande descontentamento dos fãs com a atitude da editora. O que aconteceu? Atenderam os pedidos, visando dar um up nas vendas.

É claro que sempre há a possibilidade de que as negociações pelos direitos cinematográficos tenham influenciado a ResurrXion, pois elas certamente já existiam muito antes de 2017. No entanto, não podemos afirmar com certeza o nível de ligação entre os executivos da Marvel Studios e os editores da Marvel Comics. Mas o importante aqui não é isso. O importante é que o boicote acabou, mas não foi em 2018.

2019 – O que esperar?

Volte aqui no site na semana que vem, estamos preparando um texto com algumas expectativas, teorias e informações que reunimos sobre o futuro da franquia mutante.

Texto: Vinícius Corrêa

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