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ESTÃO ESTRAGANDO A MARVEL? O que Stan Lee pensava sobre a diversidade nas HQs

Toda vez que a Marvel anuncia qualquer revista, personagem ou mesmo equipe criativa com um perfil mais diverso (seja um autor gay, um desenhista negro ou mesmo uma nova heroína), surgem na internet comentários como: “Stan Lee se revira no caixão” ou “foi só o Stan Lee morrer que a Marvel virou baderna“.

Obviamente esse tipo de comentário não condiz em nada com a realidade. Stan Lee sempre foi um homem muito à frente do seu tempo. Um visionário de muitas maneiras. Não é a toa que ele criou Peter Parker, um dos personagens mais relacionáveis cultura pop. Ou mesmo os X-Men, equipe que jurou proteger aqueles que os temem.

Vale destacar que Stan Lee escreveu quadrinhos de sucesso para a Marvel entre as década de 60 e 70, suas últimas revistas regulares foram O Espetacular Homem-Aranha #110 e Quarteto Fantástico #125, ambas de 1972. A partir de então ele passou a se focar exclusivamente ao trabalho como editor. Ele seguiu na Marvel ainda até a década de 90, quando se desligou em definitivo e parou de ter qualquer influência criativa nas histórias em quadrinhos.

Ou seja, mesmo antes de vir a falecer, Stan Lee já estava há pelo menos 30 anos sem ter qualquer envolvimento com as HQs da Marvel. Ele apenas participava de eventos, dava palestras, participava de seções de autógrafos e fazia as aparições no MCU.

No documentário “Por trás da Máscara“, disponibilizado exclusivamente no Disney+, é exibido um dos “Soap Box” do Stan Lee. Soap Boxes são colunas que o escritor costumava publicar nas páginas das HQs da Marvel, manifestando suas opiniões. Confira o que ele tinha a dizer sobre a diversidade em um texto de 1980 (40 anos atrás):

Pensem comigo, pessoal. É hora da filosofia! A natureza humana não muda. É o ambiente. O fato é que o mundo está mudando muito, produzindo novas regras cada vez que você pisca. Nenhum de nós é diferente. Todos queremos as mesmas coisas da vida. Segurança, diversão, romance, amizade e o respeito de todos.

Isso serve para indianos, chineses, russos, judeus, árabes, católicos, protestantes, pretos, marrons, brancos e Hulks de pele verde. Vamos parar de desperdiçar tempo odiando os outros caras. Olhe no espelho, senhor. O outro cara é você.

Excelsior. Stan“.

Em outra das suas colunas, desta vez de 1970 (50 anos atrás), Stan Lee deixou claro a sua percepção de que os quadrinhos não devem ser puramente entretenimento vazio. É preciso ter um conteúdo a mais e instigar o leitor a pensar e refletir:

Parece-me que uma história sem mensagem, por mais subliminar que seja, é como um homem sem alma. Na verdade, mesmo a literatura mais escapista de todas – contos de fadas dos velhos tempos e lendas heroicas – continha pontos de vista morais e filosóficos. Em cada campus universitário onde posso falar, há tanta discussão sobre guerra e paz, direitos civis e a chamada rebelião da juventude quanto há em nossas revistas da Marvel. Nenhum de nós vive no vácuo – nenhum de nós é intocado pelos eventos cotidianos que nos cercam – eventos que moldam nossas histórias da mesma forma que moldam nossas vidas. Claro que nossos contos podem ser chamados de escapistas – mas só porque algo é para se divertir, não significa que temos que cobrir nossos cérebros enquanto o lemos! Excelsior!

Em outro texto, desta vez de 1968, ele resolveu falar sobre racismo:

Vamos deixar isso claro. A intolerância e o racismo estão entre os males sociais mais mortais que assolam o mundo hoje. Mas, ao contrário de uma equipe de supervilões fantasiados, eles não podem ser interrompidos com um soco no focinho ou um disparo de uma arma de raios. A única maneira de destruí-los é expô-los – revelá-los como os males insidiosos que realmente são. O fanático é um odiador irracional – aquele que odeia cegamente, fanaticamente, indiscriminadamente. Se seu problema são os homens negros, ele odeia TODOS os homens negros. Se uma ruiva o ofendeu uma vez, ele odeia TODAS as ruivas. Se algum estrangeiro conseguir um emprego antes dele, ele está atrás de TODOS os estrangeiros. Ele odeia pessoas que nunca viu – pessoas que nunca conheceu – com igual intensidade – com igual veneno.

Agora, não estamos tentando dizer que é irracional para um ser humano incomodar outro. Mas, embora qualquer pessoa tenha o direito de não gostar de outro indivíduo, é totalmente irracional, patentemente insano condenar uma raça inteira – desprezar uma nação inteira – difamar uma religião inteira. Mais cedo ou mais tarde, devemos aprender a julgar uns aos outros por nossos próprios méritos. Mais cedo ou mais tarde, para que o homem seja digno de seu destino, devemos preencher o coração com tolerância. Pois então, e somente então, seremos verdadeiramente dignos do conceito de que o homem foi criado à imagem de Deus – um Deus que nos chama a TODOS – Seus filhos.

Pax et Justitia, Stan.

Vale mencionar ainda uma última coluna, de 1969, onde ele fala sobre o ódio:

Por muitos anos, temos tentado, da nossa própria maneira desajeitada, ilustrar como o amor é uma força maior e muito mais poderosa do que o ódio. Agora, isso não significa que esperamos que você saia por aí todo serelepe, lançando flores em todos que passarem, mas queremos chegar a uma conclusão.

Consideremos três homens: Buda, Jesus e Moisés… homens de paz, cujos pensamentos e ações influenciaram incontáveis pessoas ao longo dos anos – e cujas presenças ainda marcam todos os cantos do mundo. Buda, Jesus e Moisés… homens de boa-vontade, de tolerância, e, especialmente, de amor.

Agora, considere aqueles que praticam o ódio, que mancharam as páginas da nossa história. Quem ainda venera os discursos deles? Onde estão as homenagens prestadas às suas memórias? Quais bandeiras são levantadas pelas causas deles?

O poder do amor – e o poder do ódio: Qual é mais duradouro? Diante do desespero, deixe a resposta te sustentar.

Há também o clássico vídeo que ele gravou em 2017, um ano antes de falecer, deixando claro que “a Marvel sempre foi e sempre será um reflexo do mundo logo depois de nossas janelas“. Ele também reforça que a Marvel produz histórias para todos “independente de sua raça, gênero, religião ou a cor da pele“. Assista o vídeo legendado abaixo:

Ou seja, deu para entender que Stan Lee era um homem que abraçava a diversidade. Não era nem um pouco antiquado. Se hoje a Marvel possui tantos personagens diversos e cada vez mais aumenta a fileira de criadores diversos, é pelo fato do atual editorial estar seguindo a risca os mantras defendidos por Stan.

Se você alguma vez encontrar alguém falando que Stan Lee jamais apoiaria a Marvel atual, mande esse texto para essa pessoa. Ela certamente não conhece o Stan de verdade. No máximo deve ter visto ele nas suas memoráveis participações especiais do MCU.

Mas e então, caro leitor, o que achou disso tudo? Já sabia Stan Lee era um homem tão à frente do seu tempo? Deixe a sua opinião nos comentários.

Redação Jamesons

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