Entrevista exclusiva com Brandon Montclare, o co-criador da Moon Girl

Mais do que apenas conteúdos relevantes, buscamos trazer para o site material exclusivo. Coisas que os nossos leitores poderão ler apenas aqui. Mês passado conversamos com Rodney Barnes, o roteirista da HQ do Falcão, dessa vez o nosso entrevistado será Brandon Montclare, um dos criadores da HQ Moon Girl and Devil Dinosaur.

Moon Girl and Devil Dinosaur é uma publicação voltada para o público infantil, mas que se desenrola no centro do Universo Marvel. A protagonista se chama Lunella Lafayette e é uma jovem negra, considerada a pessoa mais inteligente do mundo e que se aventura montada em um Tiranossauro Rex vermelho. Se existe um conceito melhor do que o dessa HQ, nós desconhecemos.

Conversamos com Brandon para entender melhor o processo de criação da Moon Girl, como ele tem enxergado a receptividade por parte dos leitores e um pouco sobre a sua carreira. Confira:

JAMESONS: Um tema que ganhou muito espaço nos últimos anos é a questão da representatividade. A Marvel criou muitos personagens, como Miles Morales, Kamala Khan e, obviamente, Lunella Lafayette, que dialogam com essa tendência. Você, como criador da Moon Girl, avalia como esse momento? Como a Moon Girl foi concebida?

BRANDON: O editor Mark Paniccia convidou a mim e Amy Reeder para levantarmos algumas ideias para a Marvel. Ele já nos conhecia e gostava do que fazíamos com a nossa revista Rocket Girl na Image. Então passamos por um processo bastante padrão para chegarmos até o Dinossauro Demônio. O incomum era a necessidade de ser criado um novo personagem como protagonista da história. Enquanto desenvolvíamos a nova Moon Girl, Natacha Bustos — com quem trabalhei numa história para a DC/Vertigo — acabou entrando na equipe. Nós três criamos Lunella Lafayette juntos. E acho que eu posso dizer que ela é o tipo de personagem cuja história queríamos contar.

Quanto a mim: fico feliz de termos uma personagem nova que represente um segmento do público que antes não era abarcado por representatividade. A maioria dos personagens estáveis da Marvel foram criados há 50 anos. Os tempos mudam, e acredito que é incrível que criemos novos personagens que reflitam melhor o mundo real e atual. Presumo que os demais personagens citados também tenham sido criados assim: times criativos dando suas melhores e mais inovadoras ideias para a Marvel. Você deve: convencer o editorial com sua ideia; e se ligar aos seus leitores. Estou orgulhoso por Moon Girl ter feito essas duas coisas.

O Dinossauro Demônio é um personagem criado por Jack Kirby em 1978. Foto: Marvel Comics.

JAMESONS: A maior parte do público-alvo de sua revista é infantil, o que representa uma porta de entrada para novos leitores. E ousamos dizer que é uma das melhores que a Marvel já teve. Essa característica foi ideia sua ou do editorial?

BRANDON: Moon Girl and Devil Dinosaur é para todas as idades. Nós levamos a revista muito a sério. Acredito que grande parte do sucesso da revista — talvez a maior parte — se deve à funcionalidade dela tanto para adultos quanto para crianças. Às vezes essa adaptabilidade é ignorada. Às vezes tentam, mas não dá certo. Honestamente: não acho que haja muita gente por aí que consiga fazer isso como eu e o restante da equipe de Moon Girl. Devemos nos conectar com as crianças e com o que acontece no dia-a-dia delas. Devemos brincar com as memórias que temos da nossa própria infância. E devemos também lidar com assuntos que Lunella e o público infantil ainda não sabem, mas que ainda vão aprender. Se você trabalhar tudo isso, o resultado é uma revista que todos podem ler e reler.

A Marvel indicou que era também uma oportunidade para fazer uma história relacionada ao Universo Marvel e que fosse adequada a leitores jovens. Agarrei a oportunidade! Gosto de trabalhar com os nichos mais incomuns da Marvel (por isso prefiro escrever o Dinossauro Demônio em vez de algo tão consolidado, como X-Men). Do ponto de vista editorial, uma revista para crianças que compõe o Universo Marvel é incomum, o que é bastante recompensador criativamente falando.

JAMESONS: Como criador, qual a sensação de ver a personagem crescendo dentro da Marvel? A Moon Girl foi parte de Inumanos versus X-Men, é membro dos Guerreiros Secretos e aparecerá em Campeões. É um sentimento similar ao de um pai criando os filhos pro mundo?

BRANDON: Nada é mais satisfatório do que ver seu trabalho ser apreciado pelo público, mas logo depois deve ser ver a Moon Girl sendo incorporada ao Universo Marvel… até mesmo além dos quadrinhos (como em propagandas, filmes e videogames). Não vejo sentido em trabalhar na Marvel se você é egoísta com seus personagens. Personagens originais merecem, obviamente, respeito, mas personagens da Marvel são definidos por uma penca de escritores e desenhistas que trabalharam esses personagens por décadas. Então, eu criei a Moon Girl de forma que ela fosse preparada para esse contexto, parte do processo criativo foi inclusive pensado para compartilhar a personagem com outros criadores.

Pessoalmente, sou muito menos coruja com Lunella do que sou com meus filhos! Por motivos óbvios. Já tive sucesso com personagens originais, cujo controle é exclusivamente meu. Eu nunca cederia a Rocket Girl para ninguém além da co-criadora dela, Amy Reeder. Mas é como eu disse: o ponto em trabalhar na Marvel é ser parte da Marvel. Dessa forma, é ótimo que a Moon Girl esteja sendo usada por outros criadores, tornando-se parte de uma continuidade que cresce.

A cada edição a personagem fica mais entrosada com o Universo Marvel. Foto: Marvel Comics.

JAMESONS: Quando a Marvel anunciou Moon Girl and Devil Dinosaur, mesmo que fosse uma ideia curiosa, interessante, muitos disseram que a revista seria cancelada logo. Isso também ocorreu com Miss Marvel. Apesar disso, ambas são um sucesso de crítica, com vendas estáveis e aparições em outras mídias. Você esperava escrever cerca de 30 edições da revista?

BRANDON: Honestamente, não. Não pensei que duraria tanto assim! É um território novo para mim. Mesmo quando eu fui editor na Vertigo e na DC por 4 anos, nunca cheguei perto de tantas edições em apenas um título. Entretanto, revistas como Miss Marvel e também Garota-Esquilo abriram caminho pra isso. Agora Moon Girl and Devil Dinosaur anda com as próprias pernas.

Me divirto muito com cada edição, trazendo novas ideias. Muito é inspirado pela arte de Natacha Bustos. Quando percebo o que ela pode fazer — todo mês em cada edição, página e quadro, me incentivo a trabalhar mais. Além disso, obviamente, as reações positivas dos fãs também me estimulam. Essa revista é importante pra muita gente, o que é uma motivação para continuar.

JAMESONS: Você tem planos para escrever outro personagem da Marvel? Se pudesse escolher algum, qual seria e o que faria com ele?

BRANDON: Não tenho planos! Moon Girl and Devil Dinosaur é a única revista da Marvel na qual estou trabalhando. Eu adoro muitos personagens — mas este momento não é propício pra isso: seja por minha agenda e/ou pelas demandas da editora. Também estou focado em material autoral e em uns trabalhos na televisão. Então, não devo vir com um projeto na Marvel por enquanto, apesar de ter muitos sonhos…

O Doutor Estranho é o meu favorito, mas, depois de muitos anos sem estar sob os holofotes, ele é bastante popular atualmente! Acho que todo escritor brigaria para escrever o Mago Supremo. Eu já o pus como participação especial em Moon Girl and Devil Dinosaur. Ainda assim, seria legal fazer uma história clássica com Michael Kaluta. Adoro o Coisa, que também apareceu em Moon Girl and Devil Dinosaur. Seria incrível escrever uma história sobre Ben Grimm na Rua Yancy com Ray Anthony Height. O Hulk Cinza/Senhor Tira-Teima com Simon Bisley. Uma história bem doida com Henry Flint sobre o Falcão Noturno, em que ele seria mais insano que aquele lá da Distinta Concorrência. X-Men com Natacha. E talvez Quarteto Fantástico com Frank Quitely?

A mencionada participação do Dr. Estranho na HQ da Moon Girl. Foto: Marvel Comics.

JAMESONS: Por fim… nós, leitores, estamos bem traumatizados com personagens novos que caem no limbo por suas revistas não continuarem por algum motivo (como, por exemplo, Fugitivos e Jovens Vingadores). Como prevenir que isso ocorra com Lunella?

BRANDON: O que dá pra fazer é comprar os quadrinhos de que gostamos e compartilhá-los com as pessoas que podem gostar também. Quando uma edição nova sai, poste um tweet sobre ela com seu quadro predileto. Ou então faça uma resenha no site da Amazon. Coisas pequenas como essas ajudam muito. Também sou um leitor e fico triste quando algo de que gosto acaba. No entanto, eu tenho um posicionamento bastante radical sobre isso: se uma revista não vai bem, ela deve ser cancelada. Tente de novo com algo novo. Anime o público com outro personagem.

Afinal, sendo bem honesto, se a revista não é popular o bastante para animar fãs mensalmente, eu perco o interesse. Então, se vocês estão animados com as histórias que Natacha Bustos, Tamra Bonvillain, Travis Lanham, Mark Paniccia, Chris Robinson, eu e outros entregam todo mês: façam-se ouvir! E, na boa, é difícil NÃO se fazer ouvir quando o assunto é uma menina de 9 anos que é a pessoa mais inteligente do mundo que tem como parceiro um tiranossauro vermelho.

JAMESONS: Infelizmente, a Panini, que é responsável por traduzir e publicar as revistas da Marvel no Brasil, não demonstrou evidências de que publicará Moon Girl and Devil Dinosaur. Você poderia deixar uma mensagem sobre a revista para a Panini? Cremos que a representatividade trazida por Lunella não deva ser negligenciada, ainda mais num país diverso como o Brasil.

BRANDON: O Brasil tem uma cultura rica quanto se trata de quadrinhos. Quando eu era editor na DC, fui um dos responsáveis por trazer Grabriel Bá e Fábio Moon pro mercado americano. Então, um editor inteligente da Panini deveria levar Moon Girl and Devil Dinosaur para os fãs brasileiros. Obrigado!

Então caros leitores, esse foi o nosso papo com Brandon Montclare, um dos criadores da Moon Girl. Se você gostou da entrevista deixe a sua impressão nos comentários. Aceitamos também sugestões de quem vocês gostariam que a gente entrevistasse, não prometemos nada, mas vamos correr atrás para tentar conseguir. Até a próxima.

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