Roteirista dos Vingadores defende a diversidade nos quadrinhos: “uma questão de realismo”
O premiado roteirista Kurt Busiek (Marvels) entrou em uma discussão em sua conta no Twitter sobre a inclusão de diversidade nas histórias em quadrinhos. Busiek, que foi premiado com o Eisner (o Oscar dos quadrinhos) de Melhor Roteirista enquanto escrevia a revista dos Vingadores, criticou quem culpa a diversidade por “histórias ruins”. Citando a autora americana Mary Robinette Kowal, Busiek declarou: “Não se trata de adicionar diversidade por uma questão de diversidade, mas de subtrair homogeneidade por uma questão de realismo“.
A discussão começou quando o roteirista comentou sobre o atual mercado diante da Pandemia de COVID-19 e recebeu mensagens de leitores irritados com o fato de que as histórias em quadrinhos “não são boas como costumavam ser”, e que os criadores agora “põe políticas acima de tudo”. E sobrou até para os personagens da nova revista dos Novos Guerreiros. Busiek rebateu, apontando como a política sempre esteve relacionada com os quadrinhos e que a noção de “acima de tudo” estava distorcida.
Uma equipe de Vingadores brancos
Foi então que uma terceira pessoa respondeu à Busiek, mostrando uma página de Vingadores onde o Homem de Ferro estava se opondo à adição de personagens negros na equipe para acrescentar diversidade ao elenco. A página em questão é referente à 27ª edição de Avengers (de 1998), escrita pelo próprio Busiek.
Na revista, o agente do governo que trabalhava junto aos Vingadores, Duane Freeman, expõe aos heróis que a imprensa e o público haviam questionado sobre como toda a equipe era composta por pessoas brancas. Na história, Duane argumenta que já era hora de um integrante negro na equipe, ao que o Homem de Ferro se opõe, visto que não era a favor da imposição de “cotas étnicas“ para membros.
Busiek respondeu na lata: “Esse idiota acha que os Vingadores falando sobre cotas na história, em uma história que trouxe mais diversidade à equipe, é na verdade uma declaração sobre os escritores e artistas não considerarem a diversidade“, e continuou: “Tony não é o roteirista da revista dos Vingadores. Ele é um personagem em Vingadores. Há uma diferença que você não pode compreender, mas ele não é mais A Voz do roteirista do que o cara com quem ele está discutindo – que foi escrito pelo mesmo roteirista. O roteirista está escrevendo drama com o objetivo de tornar o elenco mais diversificado. O personagem está se opondo à questão porque isso é interessante.“
Ao fim da edição, uma nova equipe dos Vingadores é formada, composta por quatro mulheres (maioria em relação ao homens) e um super-herói negro (Triatlo, criação de Busiek). Ou seja, no fim, a diversidade realmente venceu.
Mais tarde, Busiek postou mais um desabafo sobre a importância de se criar personagens diversos.
Confira, na íntegra e traduzido:
“Não se trata de adicionar diversidade por uma questão de diversidade, mas de subtrair homogeneidade por uma questão de realismo”.
“O sujeito que argumentou contra essa afirmação argumentou que deveria ser uma questão de mérito, não de etnia ou gênero ou qualquer outra coisa, o que determina como a equipe é construída. E eu fiquei surpreso com a ideia de que ele parece pensar que os roteiristas entrevistam vários candidatos para construir o elenco de uma história.
Quando comecei a escrever ‘Vingadores’, os super-heróis da equipe eram todos brancos, porque queríamos um “elenco clássico”, e devido ao fato de que a maioria dos personagens clássicos da Marvel vem de uma época em que quase todos os super-heróis eram brancos (e a eles não envelheceram), é assim que as coisas aconteceram. Havia outras maneiras de fazermos isso, mas pensei: “Vamos com uma equipe toda branca e depois transformar isso em uma trama na história“. Mas também dei a eles um novo agente intermediário do governo, e ele era negro. E nós introduzimos novos personagens não-brancos.
Agora, meu amigo marionete pode pensar que o trabalho de agente federal deveria ter ido para o candidato de maior mérito. Eu diria que foi, porque eu criei o personagem. Eu não o escolhi entre diversos candidatos. Criei um agente qualificado e capaz, e fiz dele um homem negro. Por quê? Porque “não se trata de adicionar diversidade por uma questão de diversidade, mas de subtrair homogeneidade por uma questão de realismo“.
Tínhamos muitos homens brancos no livro e mulheres também. Seria útil ter algumas figuras negras. Então fizemos o novo cara ser negro.
Isso é algo que os roteiristas fazem. Nós não contratamos os personagens, nós os criamos. Construímos os mundos, cuidamos das revistas. E fazer o mundo parecer moderno e crível (se esse é o tipo de história que estamos escrevendo) vale a pena fazer. Nós criamos e as nossas escolhas importam.“
Quem é Kurt Busik?
Kurt Busiek recebeu o Eisner de Melhor Roteirista enquanto escrevia a revista dos Vingadores em 1999. O prêmio também é válido para sua aclamada série Astro City, que escrevia no mesmo ano. Anos antes, o roteirista já havia recebido o prêmio por Marvels, que reconta a origem dos super-heróis da Marvel sob a ótica de um jornalista sem poderes. Busiek também é conhecido por seu run nos Vingadores e na revista do Homem-Aranha. É também dele a autoria da equipe dos Thunderbolts, composta por vilões reformados, que lhe garantiu o prêmio Harvey, que também homenageia criadores notáveis da indústria.
Atualmente Busiek está para iniciar uma nova grande história na Marvel, que envolverá diversos personagens e diferentes momentos cronológicos.
Durante a discussão, Busiek também se descreveu como: “um liberal de Massachusetts que você teria chamado de “lacrador” desde que eu tinha 11 anos de idade“.
E então, caro leitor? O que achou da defesa de Kurt Busiek? Concorda ou discorda sobre a visão do aclamado roteirista quanto à diversidade nos quadrinhos? Deixa sua opinião aí nos comentários! Não esqueça também de curtir a nossa página no Facebook e seguir nossas demais redes sociais! Temos também o nosso grupo no Facebook, aberto para discussões.