Senhor das Estrelas mostra que é muito mais do que apenas humor

Grounded!” é um selo que une três títulos da franquia de revistas em quadrinhos dos Guardiões da Galáxia sob uma ideia comum: o exílio na Terra. Durante os eventos de Guerra Civil II, a nave dos Guardiões foi destruída, fazendo com que o time ficasse presos no planeta Terra. Assim, os títulos Guardiões da Galáxia, Rocket Racon e Senhor das Estrelas abordam, cada um, em cinco ou seis edições, como seus protagonistas lidam com o “castigo” de não poderem sair do planeta.

O Senhor das Estrelas no Planeta Terra

Este texto resenha a mini Senhor das Estrelas, por Chip Zdarsky e Kris Anka. Em seis edições, vemos como Peter Quill, o Senhor das Estrelas, se enfia no submundo do crime de Nova Iorque, sendo vigiado pela Tropa Alfa e pelo Demolidor durante suas aventuras. No arco, o que mais se destaca é a extrema funcionalidade do elenco; Abigail Brand, Logan, Demolidor, Edmund Allen, a Gata Negra, Javelynn e os vilões do Bar Sem-Nome têm todos propósitos coerentes, bem definidos e entrelaçados de maneira muito inteligente e bem-humorada nas seis edições.

Sem dúvidas, o mérito de Zdarsky é múltiplo. O autor consegue construir um Peter Quill completamente isento de malícia, mas que, no contexto terrestre, não se adapta bem à burocracia (Brand) e às leis dos humanos (Demolidor). As piadas são frequentes, porém sempre certeiras, dosando bem o humor na leitura, o que combina muito com a personagem principal. Ao mesmo tempo em que Quill é inocente e aparentemente ingênuo, fazendo amizades principalmente com vilões de quinta categoria (como Edmund Allen, Shocker, Bola-8 e o Cabeça de Diamante), ele é inteligente e justo, mostrando saber sempre como definir quem é a verdadeira vilã (a Gata Negra) e elaborar uma estratégia perspicaz para derrotá-la, mas não sem pagar um preço caro por isso.

A história tem um excelente plot twist e conta com momentos equilibrados de aventura, drama e diversão muito bem escritos e desenhados. O autor também sabe manter o interesse do leitor pela história. No final de toda edição, temos muita ânsia para pegar logo a seguinte.

O desenhista Kris Anka conseguiu passar a sensualidade do personagem com o seu traço. Foto: Divulgação.

Artistas e personagens muito bem utilizados

Já a arte é espetacular, o traço de Kris Anka combina perfeitamente com as cores de Matthew Wilson, retratando de forma exemplar a proposta da revista. Anka traz quadros dinâmicos e detalhados, expressando muito bem a ambientação das personagens e dos cenários. Outro elemento da narrativa que só é perceptível devido à arte é o porte de galã de Peter Quill, que transborda sexualidade de forma escancarada, porém não tão explícita, em todos os quadros, mesmo os mais dramáticos.

Outro ponto forte do arco é o uso de elementos que a princípio não têm muito a ver com uma história sobre o Senhor das Estrelas. A Gata Negra vem sendo usada sem escrúpulos como vilã há uns anos, na maioria das vezes de forma bastante rasa e precária. Apesar disso, aqui ela cumpre bem seu papel de maneira muito funcional, sendo bem retratada nos balões e no traço de Anka. Outro bom exemplo é o uso do Velho Logan, personagem pelo qual eu tenho absoluto desapreço desde que foi incorporado ao universo Marvel regular. Logan é engraçado e sério ao mesmo tempo, agindo como um excelente aliado para Quill (e de Javelynn) no desfecho da história. Aliás, Logan também é muito bem introduzido, sendo vinculado ao noivado de Quill com Kitty Pryde. De fato, Zdarsky conseguiu com muito sucesso criar uma história muito boa sobre o Senhor das Estrelas que não envolve absolutamente nada do espaço, uma tarefa difícil. O autor soube incorporar o conceito de estar “grounded” no planeta, fazendo com que Quill realmente se entocasse pelo subterrâneo urbano do universo Marvel.

No geral, Senhor das Estrelas nos traz uma história inteligentemente bem amarrada. Nenhuma edição, personagem, quadro ou balão são usados em vão. Definitivamente, é uma leitura altamente recomendável, inclusive para aqueles que não têm conhecimento profundo da cronologia das personagens envolvidas. Zdarsky balanceia bem vários sentimentos em sua história com muita leveza. Infelizmente, a revista não prosseguiu, mas podemos ver mais do autor em Peter Parker: The Spectacular Spider-Man e em Marvel Two-in-One e do desenhista em Fugitivos, outros três materiais que também aparentam ser bastante capazes de deixar uma marca na indústria por sua qualidade.

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