Pantera Negra – “Nós temos mais coisas em comum do que diferenças”
Dizer que Pantera Negra é o primeiro filme sério da Marvel chega até ser ofensivo com a produção, que é muito, MAS MUITO MESMO, maior do que essa balela entre fãs. A produção tem a capacidade de significar tantas coisas, trazer tantas interpretações, analogias e compreensões, que aí sim reside o seu mérito.
Acredito que apesar de todos os espectadores assistirem ao mesmo filme, cada um terá a sua própria interpretação do longa. E essa visão estará de acordo com as vivências, culturas e valores de cada um.
Eu, como um homem, branco, hétero e de classe média baixa fiquei impactado com quatro frases que possuem um significado que transcende as telas do cinema.
1. “Temos mais coisas em comum do que diferenças“: sério, são muitos significados. Vale para as tribos que estavam em conflito em Wakanda, mas vale muito mais para o mundo real. Por quais motivos nós procuramos diferenças ideológicas, de raça, de crença ou de gênero para brigar, se todos possuíamos ao mesmo tempo tantas coisas em comum?
2. “Em momentos de dificuldade, líderes sábios constroem pontes, tolos constroem barreiras”: acho que essa aqui é bastante clara, né? Apesar dela também se encaixar no filme, remetendo ao fato de Wakanda não mais estar escondida, o peso dela no mundo real para a comunidade americana é muito mais forte.
3. “Escravidão é pior do que a morte”: essa é uma frase tão forte e que diz tantas coisas com poucas palavras, que ao saírem da boca do antagonista Killmonger (Michael B. Jordan), traz ainda mais peso para o seu papel.
4. “Quem é você?”: aqui a frase não carrega o peso da dramaturgia, mas o olhar da criança que a pronuncia, ao descobrir que a nave gigante e de alta tecnologia que está sobrevoando na sua frente pertence a um homem negro, traz MUITO significado.
Pantera Negra é uma produção muito bem construída. A tarefa de apresentar a nação de Wakanda aos espectadores não era a mais grata das tarefas, mas foi realizada com perfeição. O país africano ganha vida e funciona muito melhor do que Asgard. Possui personalidade, ao misturar elementos típicos do continente com a alta tecnologia.
Mesmo que T’Challa (Chadwick Boseman) leve o nome da produção, as cenas são constantemente roubadas por Nakia (Lupita Nyong’o), Okoye (Danai Gurira), Shuri (Letitia Wright) e M’Baku (Winston Duke), seja nas lutas de ação ou mesmo na interação entre os personagens, que são outro grande mérito do filme.
Apesar de eu achar que o Killmonger merecia mais tempo de tela, para que os seus pensamentos e discursos fosse apresentados sem tanta pressa, o vilão já está no pódio dos maiores vilões dos filmes de super-herói. A propósito, no quesito argumentativo, ele merece uma nota 10 com louvor.
Quando ele é derrotado (é filme de herói gente, não tem spoiler nisso), nós como espectadores não conseguimos vibrar pela vitória de T’Challa. O discurso da derrota é forte, impactante e verdadeiro. Ninguém ganhou.
O seu discurso sobre a omissão de Wakanda, sobre o povo não ser apenas a população que vive na nação africana e até a resposta do Pantera ao dizer que não é o Rei de todas as pessoas, apenas o Rei de Wakanda, foram muito fortes. O próprio desejo de empoderar a comunidade negra do mundo todo diz muito mais do que aparenta.
Pantera Negra é o filme que o universo de super-heróis precisava. E o simples fato de todas essas mensagens estarem inseridas em um blockbuster, que vai rodar o mundo e todos vão assistir e comentar sobre, já coloca Pantera Negra como uma das mais importantes produções de 2018.
É preciso destacar ainda o diretor Ryan Coogler, que teve a visão e capacidade de produzir exatamente o que precisávamos assistir. Um profissional diferente talvez não tivesse conseguido transmitir a mesma gravidade e mensagem.
Pantera Negra é o 18° filme do Marvel Cinematic Universe (MCU) e se passa cronologicamente logo após Capitão América: Guerra Civil. Já está em exibição nos principais cinemas do Brasil. Possui 2h15 min de duração e 2 cenas pós-créditos.