A comunidade nerd e leitora de histórias em quadrinhos ficou polvorosa no último final de semana quando usuários publicaram online um trecho da mais recente edição do encadernado do Demolidor. O motivo? Identificaram uma associação entre o Rei do Crime e o Presidente Jair Bolsonaro.
O referido encadernado está no seu número 17, o que por si só já é irônico, pois trata-se do mesmo número do partido do atual Presidente na última campanha eleitoral.
Porém o que chamou a atenção de verdade foi que na revista o clássico vilão mafioso, Wilson Fisk, resolveu se candidatar a Prefeito de NY. O personagem costumeiramente finge ser um importante filantropo da cidade, mas usa tudo isso para lavar dinheiro e comandar o crime.
Apesar de ser um notório criminoso, o vilão manipulou a mídia com fake news, colocando os vigilantes de NY como os verdadeiros criminosos. Personagens como Demolidor, Luke Cage e outros, foram considerados foras da lei, pelo político.
Com esse discurso, inflado por notícias falsas, Fisk angariou o apoio de boa parte da população da cidade. Mas a relação com o novo Presidente do Brasil se dá em uma cena específica onde manifestantes aparecem apoiando a candidatura de um vilão.
Na manifestação, apoiadores do Rei do Crime aparecem segurando cartazes e em um deles está escrito “Fisk Mito“, o que imediatamente remeteu aos leitores à figura de Jair Bolsonaro, que adotou o termo “mito” como uma das suas marcas na campanha eleitoral.
Apesar de “mito” ser um termo comum em fóruns na internet há mais de uma década, o termo vem sido apropriado por eleitores do Presidente eleito nos últimos anos.
No original, o termo utilizado pelo escritor Charles Soule (Inumanos) foi “Fisk Rules“, que não possui uma tradução fiel ao português, tornando a escolha da palavra “mito” uma opção da tradução.
Entramos em contato com a Panini para entender se a tradução foi de fato uma referência ao atual Presidente, a editora negou essa interpretação. “A Panini Brasil informa que a tradução de um dos cartazes usados na HQ Demolidor #17 não faz referência a nenhuma figura política brasileira. A editora esclarece ainda que a tradução se apropria do termo “mito” para se referir a alguém que as pessoas admiram, como é o caso do personagem Wilson Fisk, retratado no quadrinho em questão.“.
O fato é que, mesmo que a Panini não tivesse a intenção de relacionar diretamente as figuras de Wilson Fisk com a de Jair Bolsonaro, a narrativa que elegeu ambos é muito semelhante.
Ambos se vendem como salvadores, com discursos moralistas, usando a mídia e colocando a população contra aqueles que vestem vermelho. O Rei do Crime, no caso, coloca os nova-iorquinos contra o Demolidor, enquanto Jair Bolsonaro …
Essa não foi a primeira vez que uma tradução da Panini mexeu com fatores políticos. Em 2011, na revista Batman #98, a editora traduziu a fala de um carcereiro que acompanhava o Batman em uma visita na prisão, da seguinte maneira: “E o maldito petralha tem o dia todo para desfraldar seus impropérios…”.
Nessa situação, “petralha” foi a tradução escolhida para “nasty“, que em uma tradução literal seria “asqueroso“, “nojento” ou “desagradável“. Na época, o Diretor de Marketing e Comercial da editora, Márcio Borges, respondeu ao site Melhores do Mundo, explicando a posição da Panini:
“A Panini considera o termo “petralha” como uma gíria que vem se popularizando no Brasil, e independente da origem do termo, não é mais utilizado no linguajar popular apenas com conotação política, mas como sinônimos para asqueroso, nojento, etc. A empresa ressalta que não tem qualquer intenção de utilizar seus produtos editoriais de entretenimento para fins políticos.“
Apesar das duas situações serem ligeiramente parecidas e curiosamente lidarem com elementos políticos que na última eleição se enfrentaram, o termo “petralha” está estritamente ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Enquanto que o “mito“, apesar de ter sido adotado por Jair Bolsonaro, é uma palavra utilizada na linguagem popular há muito tempo.
A verdade é que a tradução de “Mito” em si não coloca em foco apenas as figuras de Fisk/Bolsonaro, e sim o cidadão classe média que tá lá segurando o cartaz. O cidadão que personifica a salvação em uma figura messiânica através da política e que se propõe a resolver todos os problemas de uma hora pra outra.
E faz todo sentido que no Universo Marvel o vigilantismo seja odiado pela classe média, afinal, os caras destroem Nova Iorque inteira toda semana.
Mas e você, caro leitor, enxerga essa relação entre o Presidente Jair Bolsonaro com o vilão Wilson Fisk? Deixe a sua opinião nos comentários.
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