por Lucas Fazola Miguel
Humberto Gessinger já dizia que o fascismo é fascinante, e deixa gente ignorante fascinada. Tais versos não poderiam ser mais atuais, ainda que tenham sido compostos há mais de trinta anos. A ascensão dos grupos fascistas tem ganhado terreno na Europa, na América do Norte, e aqui mesmo na América do Sul, nos últimos tempos. Países como Itália e Alemanha, que tiveram suas histórias marcadas por Mussolini e Hitler, convivem agora com um renascimento desse sentimento conservador, ultranacionalista, xenófobo e supremacista, que tanto mal já causou à humanidade.
“Por que estamos falando disso?”, você pode se perguntar, e eu de pronto lhe responderei: porque é justamente disso que Nick Spencer trata, em Secret Empire. Esqueça os clickbaits, as polêmicas vazias e todo o auê gerado em cima do plot do “Capitão Hidra”: o autor narrou, ao longo de doze edições, uma história sobre como o Fascismo pode ganhar força em uma sociedade que se julga livre e democrática, a partir de onde menos se espera.
Steve Rogers sempre representou todo um ideal de defesa da liberdade, da justiça e do American Way of Life. Ao fazer uso de uma figura tão emblemática, Spencer demonstra como o espírito fascista pode se enveredar pelas estruturas de poder e conferir legalidade para os mais absurdos ataques às liberdades individuais e ao Estado democrático de direito.
Em nome da “segurança nacional” e da “ordem”, um corrompido Rogers segrega inumanos em campos de concentração, executa seus inimigos políticos, reforma todo o sistema educacional do país, destrói toda a cidade de Las Vegas, desloca mutantes para um território previamente estabelecido – Nova Tian –, e ergue um escudo em torno da Terra que deixa isolados os heróis que estão defendendo a Terra de uma invasão chitauri. Tudo isso sem infringir nenhuma lei.
O epílogo da saga, Omega, é um verdadeiro soco na boca do estômago do leitor atento, que percebe como as palavras de Stevil estão carregadas de verdade: ainda que o Doutor Faustus tenha agido para “facilitar” a aceitação da Hidra como governo estabelecido, grande parte da população realmente quis aquilo, se identificou com o autoritarismo empregado pelo Capitão, líder máximo do país, e muitos deles se orgulharam de dizer “Salve a Hidra”. Muitos deles secretamente ainda manterão esse sentimento de que a Hidra estava certa, de que com eles o país estava “mais forte”.
O racismo, a xenofobia, o supracitado ultranacionalismo e todo o conceito de liberdade de expressão estão presentes na história como elementos que impulsionam um maquiavélico Steve Rogers a assumir o controle e empregar o projeto de poder para o qual acredita ser destinado a por em prática. No “mundo real”, Charlottesville aconteceu pouquíssimo tempo atrás, movimentos como o Black Lives Matter e o Occupy Wall Street continuam relevantes e refletindo uma sociedade a cada dia mais desigual e fragmentada. Negar o diálogo da trama de Spencer com nosso mundo, seria absurdamente leviano.
Spencer não poderia ser mais certeiro em sua crítica, que ressoa em diversas partes do mundo, de maneira intimamente relacionável. Em tempos da ascensão do conservadorismo, do fundamentalismo religioso e do crescente apelo pela volta do militarismo no Brasil, podemos enxergar um claro paralelo entre o cerne da história que criou, e o panorama político e social de nosso país. O Fascismo é ardiloso, anda à espreita, em busca de quaisquer fragilidades para se esgueirar e tomar conta, tanto na ficção quanto no mundo real.
Em Secret Empire, os heróis vencem o mal e retomam o controle da situação, mas as cicatrizes permanecem, e ressoarão durante muito tempo. Steve Rogers, o legítimo, agora busca uma reconciliação consigo mesmo e tem de lidar com a culpa de que foi de fato seu rosto, sua voz e sua credibilidade que levaram seu país a essa situação catastrófica. Rick Jones foi friamente executado, Natasha Romanoff é dada como morta, Las Vegas está destruída, e os heróis precisam se reerguer dos destroços dessa batalha, assim como lidarem com as consequências de cada ato. Frank Castle precisa lidar com sua culpa, por ter se aliado à Hidra em um ato de fidelidade a seu ídolo, Capitão América.
A comunidade heroica está destroçada, o fascismo do governo da Hidra gerou consequências severas no Universo Marvel, e deixa o alerta ligado para nós, no mundo real: fiquem atentos, sempre.
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