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Representatividade não deveria ser o que nos separa, mas o que nos une

No final do último domingo estava assistindo a premiação do Globo de Ouro 2019 e me surpreendeu a vitória do ator Michael Douglas pelo seu papel na série O Método Kominsky, na categoria Melhor Ator para Série de Comédia ou Musical.

Eu nunca havia escutado falar sobre o programa e assim que soube que estava disponível na Netflix, tratei de ir assistir ao piloto. Esse texto vai ter alguns spoilers sobre o primeiro episódio da série, então se está nos planos de você acompanhar o programa, recomendo que volte para o texto depois que assistir.

O piloto tem cerca de 30 minutos, não demora, vai lá, a gente te espera.

Mas bom, voltando para a série, ela aborda algumas questões como a idade avançada e a forma com a qual lidamos com o envelhecimento. A falta de energia, a rabugice e alegria, além de outros temas como a saúde.

Este último, em particular, foi o que me tocou. Até então, esse episódio piloto estava sendo uma série normal sobre um senhor de idade (Michael Douglas) que é professor de teatro. Nada que chamasse muito a minha atenção.

Mas no final do capítulo descobrimos que uma das suas melhores amigas (Susan Sullivan) e esposa do seu melhor amigo (Alan Arkin), estava sofrendo com um agressivo câncer e veio a falecer.

Foi nesse momento, quando a personagem foi representada com aquela vulnerabilidade que apenas essa maldita doença consegue causar, quando enxergamos um bom humor e energia incríveis, em uma pessoa que a gente sabe que está realmente lutando pra viver o TEMPO INTEIRO. Foi nesse momento que eu entrei na história.

Mas porque eu só me fixei de fato na trama quando a desgraça aconteceu? A série tinha uma dose de humor muito suave e interessante ao longo do episódio, então por qual motivo o meu interesse chegou apenas no seu “pior momento“?

Eu me identifiquei com a série. Em um certo nível, eu me senti representado. Não a minha pessoa em específico, mas a mesma dor que o personagem Norman (Alan Arkin) sofreu ao acompanhar a batalha da sua esposa, eu senti quando acompanhei a minha mãe enfrentando a mesma luta.

Eu consegui me colocar no lugar do Norman. Todas as angustias, dores e pensamentos que ele tinha, foram os que eu também tive. Isso me emocionou demais.

Eu sempre fui uma pessoa emotiva, mas foi apenas após a minha mãe adoecer e falecer em decorrência de um Linfoma, que eu passei a olhar essa situação com outros olhos. Agora eu consigo me colocar no lugar dos personagens que rodeiam a vitima de um câncer.

Eu me emocionei da mesma forma na primeira edição de A Poderosa Thor, lançada pela Marvel em 2016. A heroína em questão também estava com câncer e logo nas duas primeiras páginas o escritor Jason Aaron (Conan) e o desenhista Russel Dauterman (Ciclope) retratam a rotina quimioterápica de um paciente com câncer.

A cena é tão rica em detalhes e veracidade, que eu tive de parar a leitura por alguns minutos. Me remeteu totalmente os momentos em que passei com a minha mãe. Os mesmos sintomas, as mesmas fraquezas.

Contextualizei tudo isso para tentar explicar que a representatividade, que tanto falamos ser importante nas histórias em quadrinhos, cinema, na TV e em outras mídias, não se trata de uma lacração ou necessariamente um movimento político de esquerda.

Representatividade é nos sentirmos representados. E isso pode ser feito de várias maneiras. O Homem-Aranha, por exemplo, quem nunca se identificou com o fato dele ser azarado ou sofrer todos os meses para pagar as suas contas? Tem ainda quem pode se identificar com ele por ser órfão de pais e ter sido criado pelos tios/avos.

Essa é a importância de termos personagens como o Pantera Negra, Miles Morales e Luke Cage, por exemplo, permitindo que crianças negras também se vejam espelhadas em super-heróis. Enquanto o Miles pode inspirar os jovens do Brooklyn e o Luke a galera do Harlem, o Pantera é uma representação da cultura africana.

O Homem de Gelo, para a comunidade LGBT, pode representar aqueles que precisaram passar muito tempo omitindo a sua real sexualidade. No caso das mulheres, boa parte das X-Women podem gerar uma identificação com as garotas que possuem instinto de liderança. Mais especificamente, a Tempestade inspirando jovens negras, Kitty Pryde garotas judias e a Jubileu as com ascendência chinesa, por exemplo.

A importância da representatividade fica evidente no caso do menino Matias, de 6 anos, que se encantou com o boneco do Finn, de Star Wars, sem nunca ter assistido ao filme. Está bastante claro o que despertou o interesse do garoto no boneco, não?

A representatividade é um fator importante para nos ligarmos com a obra e até nos inspirar. E aqui destaco que gerar representatividade não é o mesmo que estereotipar.

Gerar representatividade é ofertar uma pluralidade. No exemplo que dei sobre a comunidade negra acima isso ficou bastante claro. Luke Cage é um homem da periferia. Miles Morales é um jovem que, apesar de vir de berço humilde, possui a sua estrutura familiar completa. E o Pantera Negra é um rei soberano de um país africano.

O estereotipo apenas perpetua estigmas, estabelecendo concepções historicamente preconceituosas e rotulando comunidades inteiras. Ninguém representa um grupo social inteiro, todos possuem suas particularidades. E é isso que a representatividade oferta.

Então, da próxima vez que você ouvir falar em representatividade, ao invés de criticar acusando de ser coisa de esquerda, comunista ou que só querem lacrar, coloca a sua rica mãozinha na consciência e pense que, se diz pouco pra você, pode dizer muito pra outras pessoas. Se preocupe um pouco mais com o próximo, a representatividade não é o que nos separa, pelo contrário, é o que nos une.

Redação Jamesons

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