Antes de iniciar esse texto preciso destacar que ele trará alguns spoilers de acontecimentos mostrados na revista Homem-Aranha o Amigão da Vizinhança, ainda inédita no Brasil. Então se você for preciosista e só lê o material já publicado aqui em nossas terras, o texto terá spoiler para você.
Em 1984 a Marvel publicou a revista O Espetacular Homem-Aranha #248, com roteiro de Roger Stern e arte de John Romita Jr.. Essa HQ foi destacada como uma das melhores histórias já publicadas do personagem.
Na trama, intitulada ‘O Garoto que colecionava Homens-Aranha‘, conhecemos um menino que guardava todas as menções ao Homem-Aranha em jornais. Todas as reportagens, notas e colunas em que ele era mencionado. Ele era definitivamente um grande fã.
Peter vai visitar o rapaz, interage bastante com ele e até revela a sua identidade secreta. Ao final da história, descobrimos que o jovem está em uma clínica para tratamento de câncer. Ele tem leucemia e sua expectativa de vida é de alguns dias.
Mas por qual motivo eu menciono essa revista para esse texto? É que o escritor Tom Taylor e o desenhista Juan Cabal fizeram algo muito semelhante, mas ao mesmo tempo diferente, em Homem-Aranha o Amigão da Vizinhança #6, publicada hoje nos Estados Unidos.
Na revista a gente acompanha o Homem-Aranha em uma missão com o ‘Picada de Aranha’, seu novo parceiro mirim. Eles enfrentam primeiro o Doutor Octopus e o Abutre, mas depois acabam se deparando com a galera inteira de vilões do Homem-Aranha.
Com muito suor e dedicação eles acabam saindo vitoriosos e resolvem sentar na beirada de um prédio para descansar. E é aí que ocorre a magia do roteiro.
Não há vilões. Mas há um parceiro. Toda a aventura que acabamos de presenciar não passou de uma grande brincadeira entre o Homem-Aranha e Nathan. Ao melhor estilo Woody e seus brinquedos em Toy Story. O pai de Nathan era o Metaloide e os demais vilões eram a equipe do hospital, que enfeitou todo uma ala do ambiente para sustentar a criatividade do garoto.
Nathan tem câncer e a sua rotina se resume ao hospital. Já não tem mais tanta energia, se corre muito começa a tossir. Quando a aventura acaba e sua mãe pede para ele voltar para a cama o garoto tem um mini surto.
Ele imediatamente repara que foi mal educado na frente do seu ídolo, o Homem-Aranha, e se desculpa. Peter então sai da sala para conversar com os pais do rapaz. Mas Nathan antes pergunta “Você vai voltar pra se despedir, né?” e recebe como resposta “Mas é claro, eu não vou simplesmente deixar o meu parceiro“.
Os pais de Nathan agradecem o Aranha pelo dia que proporcionou ao filho deles e pedem desculpa pela sua mal criação. Peter diz que ta de boa com isso, nenhuma criança gosta de ir para a cama depois de um dia divertido desses.
A mãe de Nathan então responde que o problema não é esse, Nathan tem medo de ir para a cama pois teme nunca mais sair dela. E é então que o Homem-Aranha tem uma ideia. Pergunta para os pais dele se o garoto possui um casaco e dá para Nathan o melhor presente de todos:
Quando o roteirista Tom Taylor assumiu a revista do Homem-Aranha o Amigão da Vizinhança, foi esse tipo de história que ele se propôs a contar. Diferente de O Espetacular Homem-Aranha que possui aventuras mais grandiosas, aqui o seu objetivo é mostrar o herói de fato se relacionando com a sua vizinhança.
São histórias mais intimistas. No primeiro arco tivemos a revelação de que a Tia May está tratando um câncer. Na edição passada abordou um menor que havia roubado um carro e lhe aconselhou a não seguir nessa vida criminosa.
Tom Taylor tem conseguido desenvolver histórias mais intimistas, bem particulares, mostrando por qual motivo o Homem-Aranha é um personagem tão querido pelos fãs.
Sobre essa edição em particular, como o título já deixou claro, eu chorei lendo. Essa “fisgada emocional” funcionou comigo no momento em que a família revela o motivo de Nathan não querer voltar para a cama.
Em um certo nível eu senti uma representação nessa abordagem. Eu já falei sobre isso aqui no site, no texto ‘Representatividade não deveria ser o que nos separa, mas o que nos une‘. Mas eu senti algo semelhante com essa revista.
Eu perdi minha mãe em 2015. Ela tinha 61 anos e lutou por meio ano contra um Linfoma. E esse lance da pessoa ter medo de ir para a cama, pois não sabe se vai sair de lá, é muito real.
E isso não vale apenas para a cama em si, mas para o hospital de fato. Durante as sessões de quimioterapia, minha mãe recebia alta e podia ficar em casa por algumas poucas semanas. Me recordo como se fosse hoje a minha irmã ligando para avisar que o hospital havia chamado a minha mãe para fazer mais uma sessão de quimioterapia. Eu tive de acordar ela para dar a notícia. Foi uma sensação horrível.
Quando eu avisei ela que o hospital havia chamado … ela chorou, eu chorei … choramos juntos. Na teoria era algo bom, ela estava indo para o hospital para receber mais uma dose da sua cura. Na prática seriam mais algumas semanas em um ambiente apático de um hospital, sofrendo com a quimioterapia.
Minha mãe nunca disse, mas a tristeza dela em receber o chamado do hospital era na verdade o medo de nunca mais voltar para a sua casa. E de fato ela não voltou. Duas semanas depois, após algumas complicações da doença, ela acabou falecendo.
E se essa “medo” já é complicado de ser superado por uma pessoa adulta, madura, que já vivei uma parte considerável da sua vida, eu não sou capaz nem de imaginar o sofrimento de Nathan e demais crianças.
O câncer é algo que ninguém deveria precisar enfrentar. Muito menos os pequenos anjos que são as crianças. Sendo assim, finalizo esse texto apontando que você pode ajudar instituições que combatem o câncer. O Homem-Aranha certamente ficaria orgulhoso de você.
No Rio Grande do Sul, mais precisamente no município de Novo Hamburgo, a entidade AMO Criança, que é Associação de Assistência em Oncopediatria, promove a campanha das tampinhas de garrafa.
Você pode doar para a instituição tampinhas de plástico dos refrigerantes, água e leite, por exemplo. A entidade vende esse material e todo o dinheiro adquirido é revertido para o tratamento de crianças que sofrem com o câncer infantil. Para mais informações sobre a AMO Criança, basta clicar aqui.
Outra entidade que você também pode ajudar e que certamente deixaria o Homem-Aranha muito orgulhoso é o INCA – Instituto Nacional de Câncer. É possível auxilar eles doando sangue, medula óssea, plaquetas, brinquedos, alimentos e outras coisa mais. Você pode acessar o site do INCA clicando aqui para ter mais informações.
Bora deixar o Homem-Aranha orgulhoso?
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