Nesse final de semana ocorreu a CCRS 2019, principal evento de quadrinhos do Sul do Brasil. A convenção contou com a participação de vários profissionais de renome do cenário nacional e internacional das HQs.
Nós do Jamesons participamos do evento no painel “Marvel Comics: A liderança do mercado pela Casa das Ideias” sendo representados pelo Editor-Chefe do site, Marcos Heck. Também participaram do debate o Vinícius, do canal 2Quadrinhos no Youtube e o Matheus Bonez, do canal BlogBuster, também do Youtube. O momento foi mediado pelo Rodrigo de Oliveira, membro da organização da Comic Con RS.
Após a o painel, aproveitei que o Levi Trindade, editor da Panini aqui no Brasil, estava na plateia e fui trocar uma ideia com ele, questionar sobre alguns lançamentos recentes da editora que não foram anunciados ainda.
Mas antes da entrevista começar de fato, estava conversando com ele sobre o comportamento dos leitores e o editor da Panini fez um prolongado, mas importante, desabafo. Com a sua autorização, gravei a conversa e a transcrevo abaixo:
“Sabe, eu não saio xingando ninguém na internet ou ataco as pessoas. Quando alguém parte para o ataque pessoal, uma ofensa pessoal contra mim … poxa … beleza.
Eu não trato e nem destrato ninguém. O mínimo que eu exijo, na verdade nem exijo, eu peço, é respeito. Pode me criticar, eu sou um ser humano sujeito a falhas, eu erro e eu admito meus erros. Mesmo quando o erro não foi meu eu já assumi por outras pessoas, pois tecnicamente eu estou na frente de tudo. Eu assumo a culpa de coisas que eu nem faço ideia de que está rolando.
O que me deixa frustrado é a galera que as vezes é teu colega, teu amigo, alguns eu considero como amigos, e depois o cara grava um rap falando mal de você. Eu sei que ele ta brabo com a Panini, mas porque me atacar pessoalmente usando uma música ou um vídeo? Pô, então eu era muito amigo dele quando ele precisava pra fazer um vídeo, depois que ele conseguiu os likes dele e conseguiu consolidar o canal, eu viro o saco de pancadas do cara? E sabe, isso eu não admito, isso eu não curto, mas eu entendo a posição de certas pessoas.“
“Uma coisa que eu percebo é que na internet todo mundo é macho, mas nos eventos normalmente as pessoas se comportam como seres humanos e são educados.
Mesmo quando surge um assunto polêmico, eles não alteram o tom. Mas as vezes surgem umas pessoas … o que é interessante é a pessoa estar no evento e postar no Twitter ou no Instagram algo como “o idiota do mentiroso acabou de falar uma merda” … [respiro] mas tudo bem.
Eu só quero que me tratem com respeito e que tratem os profissionais que trabalham com a gente com respeito. Problemas com a empresa a gente sabe que tem e são muitos, quase uma crise infinita de problemas, mas a gente sempre busca a melhoria quando os problemas aparecem.
A gente tem uma situação de coisas que passaram, nós corremos atrás disso para melhorar os processos e posso dizer que, aparentemente, estamos conseguindo manter a meta de não ter erros e desaparecer da ‘maldita’ página “Todo dia um erro nos quadrinhos diferente“.
Eu acho que foi importante a página [Todo dia um erro nos quadrinhos diferente] porque a gente precisava corrigir alguns processos. O erro em alguns processos foi doloroso para algumas pessoas e a gente teve de corrigir a tempo.
Lembra do balão sem texto [no omnibus do Homem-Aranha do Stan Lee e Steve Ditko]? Tu acha que a gente escolheu fazer aquilo? Não. Aconteceu, o nosso designer não sabe explicar como aquilo aconteceu, a pessoa não mexeu naquele balão e aquela página, aquele texto, não embedou e não subiu. Só que como não era algo de construção de balão, quando a pessoa conferiu a página, ela não desceu a página para ver o que aconteceu lá em baixo. Ela olhou lá em cima e disse, ‘Ta ok’. Só que ela não percebeu que o balão sumiu.
Tudo bem que era um balão que qualquer leitor sabia, era ‘Em Chamas!‘, maravilha, mas é um erro! Isso numa edição que não é barata e estava acumulada com outros erros menores que apareceram.
Mas a gente mesmo assim reimprimiu, trocou para os leitores que tinham comprado o material. Então, isso é respeitar o consumidor, a gente não ignorou o problema. Eu já assumi esse erro um milhão de vezes, então o problema não é errar, mas ignorar o problema. Não é um problema errar? É. Mas eu quero dizer que seria pior a gente não fazer nada.
Nós redobramos os nossos processos, contratamos novos revisores, contratamos novos editores, para poder corrigir a roda. Na minha concepção sobre a revisão, aparentemente a qualidade está melhorando e a gente tem diminuído ou pelo menos feito sumir drasticamente os erros.
O ideal é que as pessoas reportem os erros para a gente, mas com respeito. Tem um problema? Relate, pois tudo isso serve como melhoria. Como a gente vai melhorar serviço de atendimento, serviço de assinatura e distribuição se as pessoas não chegam e comunicam?
Só reclamar e dizer que ta uma bosta todo mundo pode falar, mas a crítica bem construtiva ou dirigida, ela serve pra melhorar. As vezes não tem valor nenhum ficar em um grupo se matando e se batendo, tem que transmitir para a gente.
Por mais que pareça que ninguém dá atenção, dá sim. O que é comentado nas nossas redes sociais é compilado, tem uma agência que cuida disso pra nós, a gente faz uma reunião semanal para ver os assuntos mais comentados. E a gente vai dando respostas, um feedbeck pro leitor. É o que a gente precisa fazer e é o que estamos fazendo. Só que a gente nunca vai deixar todo mundo satisfeito.
JAMESONS: A minissérie do Homem-Múltiplo, alguma chance de sair por aqui?
Levi Trindade: Nesse ano não, mas está na minha lista de coisas para trazer para cá em um encadernado só e não acho que precisa ser capa dura, pode ser capa cartão que cumpre bem a função.
JAMESONS: E a minissérie dos Novos Mutantes: Almas Mortas?
Levi Trindade: Esse ano e em capa cartão.
JAMESONS: A Gaviã-Arqueira da Kelly Thompson e Leonardo Romero?
Levi Trindade: Eu tinha tentado emplacar para esse ano. Mas o setor comercial e de varejo me fez desistir dessa ideia. Falaram que não iria dar retorno, eu preferi então segurar um pouco.
Eu peço que os leitores peçam por esse material. Vai ser a manifestação dos leitores que vai decidir o lançamento ou não desse material, porque sem apoio ou sem suporte não vai rolar.
JAMESONS: Vingadores da Costa-Oeste então, que é continuação direta desse material, está na mesma situação?
Levi Trindade: Essa revista vai sair. Mas dai você fala, ‘mas por que essa incoerência?’. É que são os Vingadores. É mais fácil vender os Vingadores do que a Kate Bishop.
JAMESONS: Quarteto Fantástico do Dan Slott e Jessica Jones da Kelly Thompson?
Ambos materiais em formato encadernado e com capa cartão.
Jamesons: A revista Sr. e Sra. X, que continua a minissérie Vampira & Gambit?
Levi Trindade: Esse material sai em setembro, no formato encadernado de capa cartão e com dois volumes que completam a revista.
Jamesons: E sobre a Coração de Ferro, veremos a HQ dela no Brasil?
Levi Trindade: Tem chance, mas não é uma promessa.
JAMESONS: A nova fase do Miles Morales, com roteiro de Saladin Ahmed (Raio Negro) e arte de Javier Garrón (Guerreiros Secretos), como sairá no Brasil?
Levi Trindade: Estamos estudando ainda como publicar, mas eu acho que ele vai acabar em encadernado ainda esse ano.
JAMESONS: Tu comentou no painel que acabou de ocorrer aqui na CCRS sobre a Poderosa Thor …
Levi Trindade: Sim. A gente vai colocar ela no plano de publicações de 2020.
JAMESONS: E será em capa dura, continuando os volumes de Thor: O Deus do Trovão da Nova Marvel?
Levi Trindade: Sim, continuando a Nova Marvel. É que a gente fechou agora a primeira fase e vamos começar a com a Jane Foster.
JAMESONS: Eu vi também que tu comentou que esse lançamento já estava programado para sair antes do anuncio do filme [Thor: Amor e Trovão] …
Levi Trindade: É muito legal ver que depois você consolida o material, tipo ‘viu, mais um motivo pelo qual devemos publicar’.
JAMESONS: Só que no Facebook da própria Panini, até antes do anuncio do filme, o pessoal respondia que não havia previsão de lançamento desse material …
Levi Trindade: Sim, mas é que ainda estavam definindo como ela seria lançada. E pra não gerar essa expectativa na galera, é melhor deixar a água acalmar e depois você fala com mais calma. Mas eu sei que fica todo mundo afoito com ‘tem que publicar agora’.
JAMESONS: A Panini lançou muito material dos mutantes nos últimos anos, como a “Era do Apocalipse” e “Inferno” em grandes coleções, por exemplo. Mas há planos para lançar a saga Complexo de Messias?
Levi Trindade: hmmm, esse ano não. Mas para o ano que vem é possível. Só vamos decidir quando apresentar.
JAMESONS: A mensal da Feiticeira Escarlate, com o anuncio da série WandaVision, tem chance de sair no Brasil?
Levi Trindade: Tem chance sim. Não batemos o martelo ainda, mas provavelmente sairá em encadernado.
JAMESONS: X-Men: Grand Design, veremos esse material aqui no Brasil?
Levi Trindade: Essa é uma publicação complicada graficamente pois tem um formato diferente. Ela necessita de uma aprovação do financeiro para que possamos ver a sua viabilidade. Nós temos de tentar apresentar da melhor maneira possível sem deturpar o material original. Então, vai rolar, só não posso precisar quando e exatamente como.
JAMESONS: Tem três revistas da Marvel que foram indicadas ao Eisner, mas o momento delas saírem no Brasil já passou, então talvez não faça muito sentido lançar elas agora no Brasil: Harpia, Mundo de Wakanda e Raio Negro. Você poderia explicar o motivo de não vermos esses materiais por aqui?
Levi Trindade: Raio Negro acho que tem chances ainda de sair aqui no Brasil aproveitando que estamos publicando em encadernado agora a minissérie A Morte dos Inumanos. É uma forma da gente conseguir linkar os dois lançamentos.
Dai você vai dizer ‘mas é incoerente isso, pois Raio Negro vem antes de A Morte dos Inumanos‘. Sim, mas o Raio Negro pode ser lido separadamente, é uma revista que se sustenta sozinha.
A Harpia por enquanto a gente não teve interesse do público suficiente para publicar. Existe a máxima de que revista com personagem feminina não vende. A gente tem muitas provas que mostram o contrário, mas mercadologicamente eu não posso negar algumas evidências.
Por exemplo, a gente usava a Jessica Drew, a Mulher-Aranha, ou a Gwen-Aranha nas capas de Aranhaverso e essas edições tinham o pior resultado de vendas no título. A gente perdia em média de 600 a 700 leitores. A gente botava uma capa do Homem-Aranha 2099 ou uma genérica do Homem-Aranha tradicional e a revista voltava a vender 600/700 edições a mais.
Então, chegou um momento em que me procuraram imediatamente e falaram ‘cara, nunca mais usa essas personagens nas capas. Nós fizemos um estudo acompanhando as vendas, ficamos preocupados com alguns números e fomos atrás das capas. Chegamos nas capas e vimos que eram todas as que tinham mulheres. Nunca mais faça isso‘.
Eu falei ‘pô, mas são personagens importantes e que se a gente não divulgar elas, nunca vão ficar conhecidas.’ e responderam ‘pois é, mas cada vez que você coloca elas a gente perde quase mil leitores’.
É um impacto financeiro forte. Aí a gente acabou cancelando a revista do Aranhaverso devido a algumas “pisadas na bola” que foi colocar mulher na capa, prejudicando o título.
Então a Harpia e a Gaviã-Arqueira entram nesse bolo. Eu também não consegui respaldo quanto a participação dos leitores engajados para justificar esse lançamento. Se a gente tiver um engajamento da galera pedindo o lançamento, é possível que saia. Eu gostaria, pois são minisséries excelentes, são fáceis de publicar, não são muito longas, com um ou dois encadernados você mata esse material.
Eu sei que a galera vai dizer ‘então você ta pondo a culpa nos leitores?‘. Não, eu não culpo. Mas eu gostaria da participação. Muitas das vezes que os leitores participaram e pediram, a gente acabou atendendo, publicando material que só saiu por causa desses pedidos.
JAMESONS: E a Garota-Esquilo? Mesmo esquema?
Levi Trindade: Ela está no mesmo balaio. Ainda mais porque é a Garota-Esquilo, que cronologicamente não tem importância nenhuma.
Os fãs falam ‘vocês estão ligados que ela é muito bem avaliada pela crítica e tem boas vendas?‘. Mas dai a gente vai lá na Diamond e não tem boas vendas não. Então falam ‘mas pega o número de venda dos encadernados americanos, é um número bom‘. Ah, mas se a gente lançar aqui, você garante que vai vender aqui? Vai ter público? Dai eu não consigo respaldo dessa parte. Eu sempre tento, mas as vezes eu sou obrigado a dar o braço a torcer.
Jamesons: Pra finalizar, você anunciou aqui na CCRS o lançamento da nova fase da Capitã Marvel, com roteiro da Kelly Thompson (Jessica Jones) e arte da Carmen Carnero (X-Men: Equipe Vermelha), como será o formato?
Levi Trindade: Vai ser em encadernado em capa cartão. A gente percebeu que alguns personagens funcionam apenas nesse formato. O Doutor Estranho, Demolidor … eles nunca mais terão revista mensal. Por incrível que pareça, até o Thor se encaixa nesse formato.
Mas e então, caro leitor, o que achou das novidades? Gostou da conversa com o Levi Trindade? Nós do site agradecemos muito a atenção do editor. Agora é a sua vez, deixe a sua opinião sobre todo esse papo nos comentários.
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