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É verdade que a All-New All Different Marvel foi um fracasso?

A Marvel recentemente anunciou a sua mais recente iniciativa nos quadrinhos, Fresh Start, e isso pode nos fazer olhar para trás, para a fase que está se despedindo, a All-New All Different Marvel. O ano de 2017 foi bastante complicado para a editora, e agora vamos destrinchar melhor nesse artigo todas essas situações.

Parece pular na mente de alguns leitores, de uma forma bastante óbvia e genérica, que a Marvel passou por uma crise tamanha que quase teve de fechar as suas portas. Isso se deve, basicamente, pelo crescimento da editora concorrente, a DC Comics, mas também por uma série de situações negativas envolvendo a Casa das Ideias.

No final do ano passado, o portal The Hollwood Reporter fez uma análise bastante precisa, sobre como a Marvel em 2017 acabou sendo marcada por uma grande polêmica negativa em QUASE TODOS OS MESES. Destacamos aqui esses momentos.

O desastroso ano de 2017

Janeiro: visando alavancar as vendas no mercado digital, a Marvel deu códigos de download extras para quem comprasse determinadas revistas. A iniciativa disparou a ira dos varejistas, que não gostaram nada disso e fizeram uma campanha contra. Alguns meses depois a Marvel encerrou o movimento.

Março:  o ex-Editor-Chefe, Axel Alonso e o SVP de Vendas e Marketing, David Gabriel, deram a escandalosa entrevista ao site ICv2. Durante o momento a dupla não apenas reconheceu que esperavam vender mais, como deram declarações desvalorizando os desenhistas, o que repercutiu de forma imprópria, a afirmação de que a diversidade não vende.

Gabriel contou que os varejistas teriam lhe dito que a diversidade não vende, porém, a repercussão foi de que essas palavras eram a opinião de Gabriel e, portanto, da Marvel. O reflexo foi a internet inteira repercutindo essa imagem negativa da editora.

Abril: Um dos principais movimentos para aumentar as vendas foi o relançamento da franquia X-Men. Porém, a revista X-Men Gold em específico enfrentou uma enorme polêmica. O desenhista indonésio Ardian Syaf colocou referências políticas e religiosas na primeira edição da HQ. A situação obviamente gerou uma controvérsia, ainda mais por se tratar de X-Men, e o artista foi demitido.

A polêmica edição desenhada por Ardian Syaf. Foto: Marvel Comics.

Maio: começou a ser publicada a saga Império Secreto. A história foi muito bem escrita por Nick Spencer, desconstruindo o ideal americano e promovendo uma reflexão verdadeira sobre o atual cenário do país. Porém o fato de relacionarem a imagem do Capitão América com a Hidra falou mais forte.

Apesar da revista deixar MUITO claro que o personagem não compactuava com os ideais nazistas e que ele havia sofrido uma manipulação, muitas pessoas criticaram a história.

[Nota do Editor: minha opinião pessoal é de que boa parte das pessoas que replicaram o discurso “Capitão América nazista” não leram a HQ. O que nos leva ao incrível fenômeno dos leitores que não leem as HQs.]

Junho: a Marvel anunciou a Marvel Legacy, um período da editora que visava explorar a nostalgia. Até aí tudo bem, o problema foi que a empresa divulgou essa fase prometendo algo que “mudaria a indústria dos quadrinhos”. No final, divulgaram apenas capas lenticulares, que nem ao menos são uma novidade.

Agosto: para promover a Marvel Legacy, a editora passou a exigir números muito altos de compra das revistas para que os lojistas recebessem as capas lenticulares. Isso obviamente não agradou os vendedores, que passaram a boicotar a estratégia da editora.

Setembro: Império Secreto chegou ao seu final. A editora, decidida a limpar a sua imagem, divulgou com exclusividade ao NY Times as imagens do Capitão América tradicional derrotando o Capitão América da Hidra. Porém já nas primeiras palavras da matéria o portal se referiu na notícia dizendo “Surpreendendo absolutamente ninguém …“.

NY Times divulgou o final da saga antes da revista ser lançada. Foto: Marvel Comics.

Outubro: esse mês foi um desastre completo. Primeiro surgiu a informação de que algumas capas lenticulares estavam com defeito. Depois, durante a NY Comic Con, os varejistas fizeram um protesto contra as revistas de diversidade da editora. E, por fim, ainda no evento, foi anunciada uma parceria com a empresa armamentistas Northrop Grumman, que foi encerrada algumas horas depois devido à péssima recepção.

Novembro: o escritor Brian Michael Bendis, que muitos entendiam ser um rosto público da Marvel e que já estava na Casa das Ideias há 18 anos, anunciou sua saída para a concorrência. Algumas semanas depois, também foi divulgado o desligamento do ex-Editor-Chefe Axel Alonso e a contratação de C.B. Cebulski para a vaga.

Dezembro: outro grande artista se afasta da editora, dessa vez Jim Starlin. O escritor ficou indignado quando outro roteirista, Donny Cates, desenvolveu um roteiro semelhante ao que ele estava trabalhando, para o Thanos. Ele entendia que deveria ter exclusividade sobre a história e, como não teve, acabou saindo brigado da editora.

Ainda em dezembro a Marvel anunciou o cancelamento de HQs de diversidade como Luke Cage, America e Gwenpool. Vale destacar aqui que poucos veículos repercutiram que a editora no lugar dessas revistas, anunciou outras como Exilados, Dominó e X-Men Red.

Todos esses acontecimentos em conjunto acabaram fragilizando de forma significativa a imagem da editora. Porém, mesmo com tudo isso, muito o que se fala sobre a All-New All Different Marvel não é verdadeiro, principalmente no que tange a sua qualidade e as suas vendas.

Os Eisners da All-New All Different Marvel

Nas edições de 2016 e de 2017 do Eisner Awards, premiação que é encarada como o Oscar dos quadrinhos, a Marvel emplacou 12 indicações nas categorias principais, saindo vitoriosa em 04 modalidades. Em negrito estão as vencedoras.

2016:

Vencedor: Surfista Prateado 11, pela categoria Melhor Edição Única.

Indicado: Surfista Prateado, pela categoria Melhor Série Contínua.

Indicado: Garota Esquilo, pela categoria Melhor Nova Série.

Vencedor: Jason Aaron, pela categoria Melhor Escritor.

Indicado: G. Willow Wilson, pela categoria Melhor Escritor.

Indicado: Mike Allred e Erica Henderson, pela categoria Melhor Desenhista.

2017:

Indicado: A Poderosa Thor, pela categoria, Melhor Série Contínua.

Vencedor: Visão, pela categoria Melhor Série Limitada.

Indicado: Harpia, pela categoria Melhor Nova Série.

Vencedor: Garota Esquilo, pela categoria Melhor Publicação para Adolescentes (13-17 anos).

Indicado: Chelsea Cain, pela categoria Melhor Escritor.

Indicado: Brian Stelfreeze, pela categoria Melhor Desenhista.

As indicações do prêmio em 2018 ainda não foram divulgadas, mas é bem provável que teremos mais material da Marvel nessa lista.

As vendas da All-New All Different Marvel

O gráfico abaixo mostra o resultado das vendas durante toda All-New All Different Marvel. Como pode ser visto, durante os 30 meses, a Marvel foi líder em 23, houve 04 empates técnicos e nos 03 primeiros meses do Rebirth a DC ficou na liderança.

Mascarando as vendas

O site Bleeding Cool, conhecido por dar alguns furos de notícia, mas também por causar muita polêmica gratuita nos quadrinhos, em dezembro de 2016 publicou um artigo “revelando” como a Marvel estaria “mascarando” as suas vendas.

De forma resumida, o site alegou que a editora utiliza de estratégias de vendas que os beneficiam. O que, convenhamos, não é novidade, certo? Estranho seria se a editora utilizasse uma estratégia que a prejudicasse.

De acordo com o site, a Marvel oferece edições extras das suas HQs para os lojistas que encomendam um valor X de publicações. Dessa forma, lá no catálogo da Diamond, que está resumido ali em cima, as vendas da Marvel acabam se inflando, pois são contabilizadas essas edições de incentivo também.

Exemplo prático: se a loja encomenda 20 edições e ganha 10 extras de incentivo, mas não necessariamente vende essas 10, conta-se que foram vendidas um total de 30 HQs.

O reflexo disso é que a Marvel estaria distribuindo tanta HQs para os lojistas que eles não estariam dando conta de vender todas, muitas estariam encalhando. O reflexo disso, de acordo com uma apuração do portal Newsarama, é prejudicial para o mercado. Pois quanto mais rotatividade de revistas nas vitrines, melhor.

Porém, o mesmo Newsarama realizou uma série de reportagens analisando o mercado de quadrinhos. Em fevereiro de 2017 eles publicaram um artigo revelando que a estratégia financeira da concorrência da Marvel, a DC Comics, também estava “mascarando” os resultados finais das vendas.

O mercado americano de quadrinhos funciona da seguinte maneira: com três meses de antecedência é divulgado o catálogo de quadrinhos de todas as editoras. Até uma semana antes do lançamento da publicação, as lojas podem encomendar a quantidade de HQs que entendem que vão vender, ou que seus clientes solicitaram.

Normalmente essas encomendas são bastante céticas. Pois toda revista que não é vendida se torna um eventual prejuízo para a loja. Porém, com o Rebirth, a DC mudou isso. Adotou a estratégia de retornabilidade, dessa forma, os lojistas poderiam encomendar quantas HQs quisessem, tudo o que não fosse vendido poderia ser devolvido, sem prejuízo nenhum para o dono da comic-shop.

De acordo com relatos de lojistas ao Newsarama, essa estratégia funcionou muito bem nos primeiros meses. Mas ao longo prazo, cerca de 50% das encomendas de cada HQ precisaram ser devolvidas devido à falta de interesse dos leitores.

Os próprios lojistas reconheceram que muitos números finais de vendas não refletem a realidade do que foi vendido, pois muitas HQs encomendadas acabaram sendo devolvidas. Mas uma vez que a DC despachou o material para a loja, assim como no caso da Marvel, a HQ passa a ser contabilizada como vendida. Independente de voltar para a editora ou de ficar encalhada na loja.

Exemplo prático: se a loja possui uma demanda de 15 HQs e solicita outras 15 para tentar vender também, mesmo que essas 15 acabem não sendo vendidas e devolvidas, é calculado que o total de vendas foi de 30 HQs.

A moral da história é que no que tange o “mascaramento” de vendas, as duas editoras possuem estratégias de vendas distintas, mas com reflexos semelhantes. Ambas se beneficiam dessa falha no sistema da distribuidora Diamond.

A opinião dos Parkers

Os Parkers são três garotos espetaculares que leem e se engajam fortemente com os quadrinhos. Eles trazem uma perspectiva diferente para o site. Eles não são adultos, não são militantes e não são conservadores, em tese eles deveriam ser o público alvo dos quadrinhos de heróis: eles são os Parkers.

Fabio Jacob: Pra mim, foi uma fase satisfatória de se ler, com títulos incríveis (como Cap Sam Wilson, Wolverine, O Espetacular Homem-Aranha, entre muitos outros) mas que não deixou de ter títulos ruins ou só mal executados, só que longe de todo o sensacionalismo feito por vários sites gringos e nacionais. No geral, honrou o término de Guerras Secretas e preparou bem o terreno para as fases posteriores.

HQ preferida: Capitão América: Sam Wilson.

Pablo Luiz: Amei a iniciativa, HQs como Guardiões da Galáxia, Novos Vingadores e Homem-Aranha (Miles Morales) despertaram imensa satisfação. Fiquei triste por que sites e alguns “leitores” (que não lêem) criticavam a iniciativa e acabaram influenciando novos leitores a não lerem também…

HQ preferida: A Poderosa Thor.

José Ronaldo: A iniciativa foi boa, muito boa. Pena que os veículos de mídia detonaram esse relaunch mesmo sem ler. Só decai um pouco quando chega na Marvel Now 2.0, mas os títulos da ANAD são muito bem escritos, cada um bem contido e com bons diálogos. No geral, se tornou uma das melhores fases de hqs nos anos recentes, mesmo com errinhos pontuais que não me agradaram.

HQ preferida: A Novíssima Wolverine.

Nossa proposta com esse texto foi acabar com alguns mitos acerca da fase All-New All Different Marvel, ao mesmo tempo em que trazemos algumas perspectivas diferentes para essa fase. Esperamos ter conseguido atingir os nossos objetivos.

Redação Jamesons

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