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‘Conan, O Bárbaro’ tem um sólido e honesto renascimento na Marvel

Em janeiro de 2018 a Marvel surpreendeu a todos com o anúncio de que em 2019 iria voltar a publicar histórias inéditas do Conan. Pois bem, 2019 chegou e a primeira edição acabou de ser lançada nos Estados Unidos.

Primeiro gostaria de me apresentar: Meu nome é Walmor e, apesar de não ser lá um grande entusiasta/colecionador de quadrinhos, tive o privilégio de crescer lendo a saudosa coleção de A Espada Selvagem de Conan, publicada pela Abril nos anos 80, graças a um tio expert em garimpar sebos.

“A Espada Selvagem” foi uma das pioneiras a trazer o chamado “formato americano” para o Brasil, além de contar com magnificas artes em PB de nomes fortes como John Buscema, Barry Smith e Alfredo Alcala.

Os roteiros, em sua maioria assinados por Roy Thomas, eram alucinantes e souberam traduzir muito bem para os quadrinhos a fantasia de espada e bruxaria criada por Robert E. Howard. Foi tudo muito bom enquanto durou, pois tive que me desfazer da coleção para limpar espaço em casa. Foi tudo embora a troco de 15 pilas e um CD. Mas enfim…

A revista Conan, o Bárbaro é o primeiro passo dessa nova parceria entre o cimério e a Casa das Ideias; em fevereiro teremos o retorno de A Espada Selvagem de Conan e em março o lançamento de A Era de Conan. E, como aficcionado, devo dizer: Conan, o Bárbaro #1 é um primeiro passo mais do que competente.


A história em si não é exatamente original, tanto no que tange à ficção fantástica quanto ao Bárbaro, mas ainda assim impressiona: após uma breve digressão que traça o nascimento de Conan num campo de batalha e nos mostra o seu destino como soberano de um império, somos então introduzidos a um Cimério lutando por ouro e vinho num poço de gladiadores em Zamora.

As coisas se complicam quando ele cruza o caminho de uma sedutora e misteriosa mulher que se revela uma poderosa feiticeira que vê no sangue de Conan a chave para trazer uma poderosa entidade de volta à vida. Conan escapa, mas compra uma briga que irá voltar a atormentá-lo no futuro, já cansado pelos anos e pelo peso da coroa de Rei da Aquilônia. E a Feiticeira deixa claro que esta é uma luta que Conan não pode vencer.

Claramente, a intenção deste primeiro numero é de fornecer uma introdução simples e chocante (a primeira página que o diga!) para o que virá no futuro próximo, e cumpre este objetivo com retidão.

O roteiro de Jason Aaron (Thor) é simples e direto, e a arte de Mahmud Asrar (X-Men Red) não se afasta muito do padrão corrente da Marvel – com a grata e necessária adição de doses cavalares de sangue.

Pode parecer burocrático, mas os autores souberam polir muito bem seu trabalho: a arte de Asrar, ainda que um tanto distante do realismo brutal geralmente associado ao personagem, consegue ambientar e inserir o leitor num universo altamente rico e diverso – e devidamente realçado pelas cores vibrantes de Matthew Wilson e o letrista Travis Manham também faz um ótimo trabalho.

Quanto ao roteiro, além deste resumir a jornada do personagem nas duas primeiras páginas, consegue logo na sequência adicionar uma das viradas mais interessantes que já vi na mitologia da Era Hiboriana: esta é uma história que lida diretamente com a mortalidade de Conan.

Explico: Tradicionalmente, a saga de Conan consiste de vários recortes e contos que levam Conan de sua infância como bárbaro nas terras do norte, passa por sua vida como saqueador, aventureiro e mercenário até seu destino final como Rei.

Neste ínterim, sua eventual morte é geralmente tratada como um risco calculado e inerente à jornada do que como um fim em si. A nova abordagem que Jason Aaron apresenta nessa estreia, é um detalhe simples, mas que imprime toda uma nova urgência na trama.

E eu poderia muito bem parar por aí, mas a HQ inclui ainda vários elementos que conseguem tanto agradar aos veteranos mais saudosos, quanto aproximar leitores mais novos do legado e do universo de Conan.

A introdução nas primeiras páginas da revista, além de trazer as já famosas citações às “Crônicas da Nemédia” e o mapa mundi da Era Hiboriana, faz uma belíssima homenagem aos quadrinhos clássicos do personagem.

A estrutura do roteiro dessa primeira edição apresenta o nascimento de Conan, a sua fase como gladiador, a batalha contra uma feiticeira – o que gera um paralelo com o roteiro do clássico filme “Conan, O Bárbaro” que eternizou Arnold Schwarzenegger no papel. Há também os desmembramentos da trama com o Rei Conan, como mencionado anteriormente.

E por fim, a obra ainda traz a primeira parte de uma novela seriada em 12 capítulos, escrita por John C. Hocking (Conan), que além de reforçar o gancho para as próximas edições, é um grande tributo às origens do personagem, que foi publicado no seu princípio em folhetins “pulp fiction” nos anos 30, ajudando a criar todo o subgênero da “Fantasia de Espada e Bruxaria” no processo.

Conan, O Bárbaro #1 poderia ter sido um arroz-com-feijão tão somente focado em introduzir a nova fase do Cimério de volta às páginas, porém o empenho da equipe criativa e artística em fazer jus ao legado do personagem coloca esta HQ em um outro nível.

Já foi dito que Jason Aaron e Mahmud Asrar são fãs de longa data de Conan, e isso transparece aqui em cada página. O respeito ao personagem é prestado de forma singela, mas pungente em cada detalhe, e a capa feita por Esad Ribic consegue encadear com precisão e beleza a admiração ao clássico e o início de uma nova era. Todos estes elementos fazem desta HQ mais do que marcar uma nova largada, mas também uma nova e vibrante referência para novos e velhos fãs.

Texto: Walmor Carvalho.

Redação Jamesons

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