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Cidade de Deus é o prelúdio não oficial de Pantera Negra que todos deveriam assistir

Quando Pantera Negra estreou nos cinemas, Michael B. Jordan (interprete do vilão Killmonger), contou que sua maior inspiração para encontrar seu personagem foi através do filme brasileiro Cidade de Deus; a maior obra cinematográfica nacional feita até hoje, quando falamos sobre projeção internacional. Mas como Cidade de Deus reflete em Pantera Negra, especialmente em Killmonger?

Killmonger e Zé Pequeno, um dos principais personagens de Cidade de Deus, são a mesma pessoa, mas de pontos de vistas diferentes. Ambos personagens possuem similaridades em suas raízes. Mas precisamos falar primeiro sobre um, depois de outro, e por fim falar dos dois como um todo. Então vamos começar através do Zé Pequeno.

No começo de Cidade de Deus nos deparamos com uma crescente comunidade dentro da cidade do Rio de Janeiro e somos apresentados a dois pontos de vista diferentes da mesma situação.

Acompanhamos Buscapé, o narrador da história, assistindo ao próprio irmão viver uma vida de crimes, mas sem concordar com as suas atitudes. E também vemos Zé Pequeno crescer perto do irmão de Buscapé e outros marginalizados, porém, diferente do narrador, ele acha as atitudes dos marginalizados algo a se glorificar.

Por que Zé Pequeno é assim? Simples dizer. A nossa sociedade, no geral, é racista e tende a marginalizar pessoas negras, as expulsando para conjuntos habitacionais, forçando-as em condições de vida não favoráveis.

Pequeno teria possibilidades de ascender no mundo capitalista, morando numa favela, sendo pobre e sem condições a estudo, saúde e acessos? Não! O sistema puxa a vida de pessoas pretas para a margem, Pequeno não tinha condições para crescer, muito menos para mudar a sua realidade.

Para situar melhor o que está sendo dito: de acordo com o IGBE, em 2018, pessoas pretas e pardas formavam um percentual de 47,3% de todos os brasileiros trabalhando de maneira informal, sendo que a população preta e parda no Brasil já é 56,10% da população geral.

Segundo uma pesquisa do Instituto Ethos, nos Conselhos de Administração das 500 maiores empresas manufatureiras no país apenas 4,6% de pretos e pardos ocupam cadeiras, sendo que o número de trainees e aprendizes pretos ou pardos representa 57%; o IBGE também apontou que pessoas pretas e pardas costumam a ganhar R$ 934 por mês, enquanto brancos, em média, ganham R$ 1.834. Ainda é pouco, não é? Imagina como deveria ser nos anos 70 e 80? Agora você imagina porque uma criança como Zé Pequeno se rendeu ao tráfico.

E agora vamos falar sobre o famoso Killmonger, um dos maiores vilões do Universo Cinematográfico Marvel, muitos nem acreditam que pode ter uma correlação gritante, mas Michael B. Jordan afirmou que Ryan Coogler, diretor do filme, o fez assistir Cidade de Deus nas gravações de Fruitvale Station, outro filme feito pela dupla, porém quando chegou em Pantera Negra, Coogler, queria novamente se inspirar no filme de Fernando Meirelles para compor seu vilão.

Mas e o vilão em si, como ele se identifica com Zé Pequeno? Bom, Cidade de Deus é o prelúdio não oficial de Pantera Negra que todos deveriam assistir.

O quê acontece é o seguinte: Killmonger também cresceu sem uma figura paterna, já que seu pai foi morto e ele também teve se sobreviver às custas de um sistema desigual.

Quando cresceu, Killmonger tomou raiva de seus parentes em Wakanda e se rendeu ao tráfico, se aliando ao vilão Ulisses Klaw. Quando chegou em Wakanda, o discurso de Killmonger se provou extremamente hipócrita e criou uma guerra civil dentro do país, só que isso é outra história. O problema é que o vilão não tinha nenhuma perspectiva de vida, se aliou ao crime por ódio e medo, assim como Zé Pequeno.

Mas algo além dos seus backgrounds os une e é a reação do oprimido. Como pessoas pretas se sentem com a falta de acesso ao mínimo, tendo que viver nas margens da sociedade.

Quer um exemplo dentro do MCU? Peter Parker ganhou poderes, postou uns vídeos no YouTube e foi chamado pra ser um vingador. Por que o Tony Stark nunca se interessou em algum menino preto?

É a base do privilégio branco dentro da ótica social realista, e não digo que Peter não merece fazer parte da equipe dos Vingadores, só é que foi mais fácil pra ele ser reconhecido por seu trabalho.

Oportunidades dignas estão em falta para pessoas pretas e pardas, enquanto brancos fazem o mínimo de esforço e ganham mais espaços apenas por serem brancos, é por isso que Killmonger e Zé Pequeno se conectam. Por raça, oportunidades, locais, vivências e aprendizados, por isso que Pantera Negra e Cidade de Deus precisam ser vistos juntos.

Texto de Paulo Henrique Miranda.

Redação Jamesons

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