Sou “cliente” da Panini desde 2005, quando comecei a colecionar as minhas primeiras histórias em quadrinhos de super-heróis. Nesses 13 anos, já vivenciei muitas fases e decisões polêmicas por parte da editora. E o mais incrível disso tudo é que a organização da empresa não parece melhorar com o tempo.
Lá em 2010, quando a Panini promoveu a famigerada “Revolução Editorial“, já havia indícios de que eles estavam promovendo grandes mudanças e não faziam a menor ideia de como se comunicar com os seus leitores. Mas OK, isso foi há 8 anos atrás.
Naquela época as comunidades do Orkut monopolizavam as discussões nerds nacionais e também tinha o Fórum Panini. O problemático é que tinham usuários que conheciam alguém, que conheciam outro alguém e um terceiro alguém conseguia umas informações exclusivas, furando qualquer divulgação oficial.
Na época dessa revolução, a divulgação se deu via os principais portais da época. Decisão até que satisfatória, afinal, era apenas 2010. Mas com o tanto de ferramentas digitais e redes sociais a disposição, já dá para fazer algo melhor, né?
O problema é que já se passaram 8 anos. O Facebook já domina a vida de quase todo o mundo, o Twitter já ascendeu e caiu como tendência, o Instagram, Whatsapp e o Youtube vivem períodos áureos. E como é possível que a editora não utilize isso tudo para ter uma maior transparência e uma melhor relação com o seu consumidor?
E sim, ela utiliza todas essas redes sociais (exceto o Whatsapp, eu acho), mas mesmo assim não parece usar da forma que poderia. Ou pelo menos, não deixa claro para o seus clientes aquilo que ela produz e como produz.
Se a editora pretende lançar encadernados da Miss Marvel e do Deadpool, por exemplo, ela deveria primeiro realizar a divulgação deles e surpreender os seus leitores. Mas não, ela espera os produtos serem registrados e a galera antenada vaza a informação pela internet por base no banco de dados de portais que registram os produtos.
Ou seja, o cliente não descobre um lançamento através da boca da editora, com informações oficiais, bem definidas e com todo um marketing em volta. Elas descobrem em grupos de discussão na internet, com uma galera especulando uma série de fatores, desde a data de lançamento, número de páginas e até o valor.
Os sites oficiais da editora, como Hotsites específicos para personagens e o portal de notícias Wizmania existem com qual propósito? Ambos são atualizados sem nenhuma lógica. Algumas novidades são divulgadas lá, já outras não. A editora precisa de uma plataforma online que divulgue todos os seus lançamentos.
Infelizmente não foi nem uma, nem duas e nem três vezes que eu descobri um lançamento da Panini apenas quando o material já estava em banca. Fui pego de surpresa, não tive a oportunidade de me planejar financeiramente. E em algumas dessas situações precisei deixar o material passar.
Quando os preços foram absurdamente inflacionados no início desse ano, primeiro aumentaram os valores e só depois se explicaram (em uma desculpinha bem esfarrapada, diga-se de passagem). A questão é que a editora foi achincalhada por todo mundo. Contudo, isso poderia ter sido diferente, caso a editora tivesse sido mais transparente e preparado o diálogo com o leitor. Ao fazer por baixo dos panos, achando que ninguém iria notar, teve de lidar com uma reação de seu público nunca antes vista no mercado nacional.
Se vão lançar um material no mês de maio, comecem a divulgar ele pelo menos em abril. Gravem vídeos para o Youtube, cards para o Facebook, stories para o Instagram. Montem um newsletter. E sim, muito disso já é feito, mas sem nenhuma lógica ou padronização.
Todas as informações sobre todos os produtos precisam estar disponíveis, de fácil acesso e centralizadas em um único local. No passado a editora chegou a fazer um bom uso do Wizmania e de seus hotsites, mantendo-os atualizados, postando checklists, previews das HQs e dando todas as informações em seu portal. Mas isso durou muito pouco.
O Wizmania é atualizado em um mês e no outro não é. Visão vol. 1 ganha vídeo no Youtube e Miss Marvel. vol. 4, 5 e 6 não. É preciso centralizar a informação para facilitar a vida do leitor.
Até mesmo a divulgação de um calendário de lançamentos do trimestre/semestre já facilitaria muito a vida dos consumidores. Os consumidores poderiam se preparar financeiramente para comprar tudo o que tem interesse. E novamente, se a editora não tem capacidade de planejar três meses à frente: amadorismo.
O que não pode acontecer é o leitor ir na banca e ser pego de surpresa. Vejam o exemplo da Miss Marvel, os três primeiros encadernados saíram com intervalos ENORMES de meses de distância, já os três últimos praticamente saíram juntos.
Recentemente a Panini encerrou diversas revistas mensais da Marvel e parece que vai aderir ao formato de encadernados. O que é ótimo, porém o problema da frase é esse “parece“. Não há certeza quanto a isso. As duas únicas pistas que temos sobre isso são o fato dessa logística já ser utilizada nas publicações da DC, além de uma resposta que um dos editores da empresa deu no seu Twitter pessoal para um seguidor.
O leitor não saber o que a editora está ofertando é um erro gravíssimo. Se ele não tem conhecimento, ele não compra. Não comprando, dá prejuízo. Dando prejuízo, a editora descontinua o material ou pior, deixa de lançar materiais semelhantes ou naquele formato. Ou seja, é ruim pra todo mundo.
E isso impacta também na vida de diversos sites de notícia que produzem espontaneamente material de divulgação para a editora sem receber nada em troca, apenas o desejo de informar seus leitores. Qual a dificuldade de lançar o checklist mensal bonitinho? Ou de divulgar os seus lançamentos com antecedência?
Se o problema nas bancas já é ruim, nas assinaturas não é muito melhor. Já fui assinante do pacote premium da Marvel e tive experiências boas e ruins, porém a dificuldade de comunicação foi uma constante.
O primeiro problema é que mesmo com a assinatura, a HQ chegava primeiro na banca e depois na minha casa. Poxa, se eu estou pagando um valor fixo e anual, se eu sou um leitor fiel, poderia ter o benefício de receber o produto com um pouco de antecedência, né? Ou pelo menos que chegasse na minha casa no mesmo dia em que chega nas bancas.
O segundo é que frequentemente eu não recebia uma HQ. Para resolver o meu problema precisava ligar para uma central de atendimento na capital do estado. As funcionárias prestavam um bom atendimento, mas era um serviço terceirizado, de forma que elas não faziam ideia do que eram as HQs, além de contarem com os catálogos desatualizados, ainda do período “pré-Revolução Editorial“.
Eu que era um leitor antenado não tinha nenhum problema com isso. Porém, alguma pessoa desavisada ou um novato, poderia entrar em confusão ao falar com a atendente e solicitar a revista X e ela perguntar se era a Y. No caso, havia a mensal Vingadores mas no registro das atendentes ainda estava Novos Vingadores. Quando falei apenas Vingadores, já chegaram a pensar que era a revista Avante, Vingadores!, outra publicação.
Mas e se ocorresse alguma mudança significativa nos mixes? A editora não costumava comunicar os seus leitores. A política pode ter mudado (espero muito que tenha), mas não levo fé. Enquanto eu era assinante ocorreram as edições “ponto 1”, HQs extras publicadas para adiantas a cronologia, e eu nunca recebi nenhuma notificação sobre isso, mas felizmente a editora adicionou gratuitamente elas na assinatura, o que foi uma enorme bola dentro.
Contudo, quando uma HQ é cancelada e outra entra no lugar, tendo ela mais ou menos páginas, não é comunicado ao assinante isso, o que apenas denota a falha geral de comunicação e transparência da editora.
Agora mesmo, a editora está na iminência de uma grande mudança nos mixes, devido ao fim da saga Inumanos VS X-Men, onde toda a linha mutante foi relançada e diversas HQs novas surgiram. Como vão ficar os mixes? A X-Men Extra vai voltar? Vão lançar a maioria em encadernados? Ninguém sabe.
Esse não é um problema que tem atingido a DC, é uma bronca mais com as histórias da Marvel. Uma série de lançamentos inéditos sofrem demais para chegar no Brasil, isso quando chegam. Materiais muito bem elogiados e premiados como Visão, Miss Marvel e Pantera Negra, nas suas fases mais recentes, demoraram tanto para sair que os leitores ficaram apreensivos.
E só um adendo, aproveitando a menção do Pantera Negra, os três primeiros encadernados do herói saíram em sequência. Mas já estamos uns 3 meses sem novidades quanto ao quarto volume. Qual a lógica de distribuição?
Mas voltando aos lançamentos, uma série de materiais inéditos e muito elogiados lá fora não deverão chegar aqui no Brasil. São materiais que levando em consideração a cronologia já deveriam ter saídos, como a mensal da Garota Esquilo, que foi indicada e venceu alguns Eisner Awards.
Materiais com personagens menores, mas muito elogiados, parecem não ter vez. As publicações de Howard, o Pato, Moon Girl, Gwenpool, Harpia, Feiticeira Escarlate, Karnak, Felina, Mundo de Wakanda, Thunderbolts, Mulher-Hulk, X-Factor e vários outros não deverão dar as caras aqui no Brasil.
É sempre bom lembrar também que a fase mais aclamada dos Guardiões da Galáxia, publicada lá por 2009 e que inspirou fortemente os filmes, foi descontinuada pela Panini na época. Os leitores ficaram sem saber o que havia acontecido com os heróis.
A Panini é uma empresa multinacional e comanda uma boa parte do mercado de quadrinhos nacional. É inadmissível que uma empresa desse porte preste um serviço tão aquém do esperado. Já estamos em 2018, todas as ferramentas necessárias para produzir uma comunicação de qualidade e independente estão nas mãos da editora, está na hora de fazer uso delas.
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