6 motivos pelos quais a Marvel não deve fazer um reboot nas HQs

Parece que virou moda na internet os leitores pedirem para que as editoras realizem reboots. Não é uma exclusividade da Marvel, isso também acontece na DC. Já vi gente defendendo até reboot na finada HQ do Invencível, lá na Image. Mas enfim, vamos te mostrar aqui o porquê de o reboot ser uma péssima ideia.

Antes de mais nada, vamos definir bem claramente o que é um “reboot”. O termo é inglês e em português significa “reinicio“. Um reboot consiste em apagar tudo o que veio antes e iniciar algo novo. No caso, jogar no lixo as histórias que precederam esse momento e partir para coisas novas.

Se não ignora as coisas antigas, não é um reboot. Não existe semi-reboot, pseudo-reboot, quase-reboot ou “reboot“. É um reboot ou não é um reboot, simples. Relançamentos de linhas que não apagam o passado, mas renumeram as revistas, são chamados relaunches.

Lendo assim até parece algo bom, né? Afinal, desapegar da velharia em prol de novidades parece algo no mínimo interessante. Sem a cronologia os escritores teriam total liberdade para escrever o que bem entendessem, certo? ERRADO. E nós vamos te mostrar o motivo disso agora.

1. A Marvel detém a maior história continuada da ficção

Isso às vezes não fica claro, mas repare que a Marvel é a detentora da maior história continuada da ficção. Há 7 livros de Harry Potter, 007 tem uns 30 filmeOs Simpsons já possuem 639 episódios. Mas a Marvel publica ininterruptamente as suas histórias em quadrinhos já tem cerca de 70 anos.

Para se ter uma ideia do impacto disso, vamos usar um pouco de matemática. A editora publica aproximadamente 10 HQs por semana (o número é maior, mas vamos diminuir pois no passado a quantidade era inferior). 10 HQs por semana gera 40 HQs mensais, multiplicando por 12 (número de meses) chegamos até 480 revistas sendo lançadas anualmente.

Se pegarmos essas 480 HQs anuais e multiplicarmos agora pelos 70 anos da editora, o valor vai para 33.600 HQs. A maioria tem 22 páginas certo? Então a Marvel já publicou uma média de 739.200 páginas de histórias em quadrinhos. Lembrando que estamos arredondando para baixo, o número final é ainda maior.

Não vamos jogar tudo isso fora, né? A Marvel tem um grande mérito que a distingue das demais editoras, os seus editores realmente fazem um bom trabalho mantendo a coesão narrativa cronológica. É muito simples identificar qual história ocorre antes ou depois, se comparada a outra.

Dai vocês podem argumentar: “Mas e a DC? Ela publica revistas como do Superman e Batman há mais tempo que a Marvel“. Verdade, mas a DC já utilizou do artifício do reboot algumas vezes, então não é uma narrativa continuada como a da Marvel. O mesmo Capitão América que aparecia nas revistas de 1941 está nas páginas das revistas de 2018.

2. O problema real são os leitores e não a cronologia

O problema da limitação criativa que grandes editoras como a Marvel e a DC impõe aos seus roteirista, não diz respeito à cronologia, mas sim aos leitores. Em 2009 o roteirista Peter David, nas páginas da HQ X-Factor, fez com que os personagens Rictor e Shatterstar se beijassem.

A novidade se deu por conta de que nada sobre a sexualidade de ambos personagens até então apontasse para o fato de serem gays ou bissexuais. Pronto, o fandom veio abaixo (nem vou entrar no mérito de que fã de X-Men deveria ser tolerante).

A história se repetiu em 2015, quando o escritor Brian Michael Bendis revelou na HQ Novíssimos X-Men, que o Homem de Gelo é gay. Foram diversas mensagens de ódio enviadas ao profissional.

O que eu quero deixar claro aqui, é que os leitores tem a mania de se entenderem como detentores dos personagens, mesmo que muitas vezes não reparem nisso. Exemplifiquei acima situações que envolvem mudanças na sexualidade dos heróis, mas qualquer mudança mais significativa gera uma onda de reações que certamente influenciam os editores e escritores.

No caso, nos dois exemplos acima (e posso passar o dia listando coisas assim, mas não quero tornar a diversidade o centro desse texto), os leitores estiveram querendo limitar criativamente os roteirista. Felizmente o trabalho não foi desfeito. Mas vocês conseguem enxergar que não era a cronologia que estava tentando impedir que algo fosse feito, e muito menos os editores, mas sim os leitores?

Imagina agora se resolvem contar uma história em que o Ciclope fica traumatizado e perde o instinto de liderança? Que o Wolverine ou Justiceiro desenvolve uma enorme culpa e decidem parar de matar. Ou ainda se revelassem que o Capitão América é um agente adormecido da Hidra. Os leitores aceitariam com tranquilidade?

3. A cronologia pesa na hora de decisão

Agora vamos ser sinceros aqui, conversa olho no olho. Quantas vezes você deixou de comprar uma HQ ou leu ela de forma rápida, sem dar muita atenção, apenas por ela não ter relevância cronológica?

Me refiro àquelas anuais escritas por roteirista convidados, edições filler ou mesmo minisséries à parte da cronologia, como, por exemplo, Deadpool Mata o Universo Marvel.

Se nós leitores ainda deixamos a cronologia influenciar no nosso poder de compra, como podemos defender um reboot ou o fim da cronologia? Não precisa responder, apenas reflita sobre isso.

4. A Image

As pessoas hoje em dia valorizam demais o trabalho da Image Comics, merecidamente. Mas é preciso prestar atenção em um detalhe, lá as HQs são autorais, não existe nenhuma cronologia que o autor precise seguir (a não ser a sua própria) e, melhor ainda, não tem fandom pentelhando em volta.

Dito isso, todas as HQs lá são boas? A maioria esmagadora é realmente surpreendente e nota 9 ou 10? Digo isso pois se lá na Image, que dá todas as condições pro profissional desenvolver uma grande história, isso não acontece, qual a probabilidade de termos 100% de sucesso numa editora como a Marvel ou a DC?

5. Não leve a cronologia tão a sério

A solução que eu encontro pra quem clama por reboot é a mais simples possível: não leve a cronologia tão a sério. Tire por exemplo o caso dos Surpreendentes X-Men do Joss Whedon. A HQ esteve cronologicamente escanteada, repercutiu muito pouco os eventos da época na franquia mutante. Mas o seu final, futuramente, impactou o restante da franquia.

Isso deu liberdade para que o Whedon desenvolvesse a sua HQ. Mas ela só teve o peso todo que teve devido a toda a cronologia que a antecedeu o legado que deixou para o futuro. Dessa mesma maneira, muitas histórias clássicas não repercutem de forma imediata as grandes sagas, exemplifico aqui o Capitão América de Ed Brubaker, Thor de Jason Aaron e Visão de Tom King.

6. Vamos fazer um reboot para produzir repetecos?

Se a ideia é jogar o passado no lixo, devemos então pensar em coisas novas. O foco deve ser em não recontar eternamente as mesmas histórias só que de formas diferentes. Se é isso que você defende, não precisa de um reboot, você precisa é ler o Universo Ultimate.

O que eu quero dizer com coisas novas? Jean Grey não precisa mais ser hospedeira da Fênix, né? Esse plot já deu o que tinha de dar. Gwen Stacy também poderia estar viva ou vamos gerar novamente o mesmo trauma em Peter Parker? O primeiro escalão da Marvel poderia agora ser ocupado em definitivo por Jane Foster e Sam Wilson, nada de Steve Rogers e Odinson nesse novo cânone.

Isso sim seria um reboot de verdade. Caso contrário, a Marvel estaria produzindo apenas repetecos.

Bom, a ideia desse texto foi propor uma reflexão e mostrar como um reboot pode não ser a melhor decisão a ser tomada. A Marvel está iniciando atualmente o lançamento da sua fase Fresh Start e as HQs estão muito bem definidas e organizadas. Um ótimo momento para atrair novos leitores, ao mesmo tempo em que também deve gerar o interesse da galera da velha guarda.

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